Há dias atrás, o meu irmão enviou-me um pequeno conto, de dezassete páginas, que ele tinha vindo a escrever desde há algum tempo. Pediu-me que o lesse e que lhe desse a minha opinião acerca do mesmo. Foi o que tentei fazer.
Aconteceu-me descobrir que essa não era uma tarefa fácil...
De entre muitas questões sobre que fui obrigado a reflectir, uma delas revelou-se tão pertinente quanto aporética: Como dar uma resposta honesta?
A verdade é que não havia uma maneira simples de dar o "feedback" que ele pretendia.
Seria honesto dizer simplesmente "gostei"? Afinal, teria alguma obrigação em lhe dizer as razões. E quais eram essas razões? O que nos leva, a cada um de nós enquanto indivíduos, a criar um gosto por uma coisa e outro por outra? Em determinadas dimensões da vida, como a culinária, esta resposta é fácil de dar: somos educados a gostar de umas coisas e a desgostar de outras. Mas, e quando toca a tarefas como ouvir uma canção, ler um poema, falar sobre um conto... Aí o caso já ganha outros contornos.
Pensei muito nisto, convido-te a pensares também.
Na verdade, este foi o primeiro verdadeiro conto que o meu irmão escreveu. Só é normal que tivesse falhas, algumas grandes até. Sugiro a quem não percebe por que é normal haver falhas, que tente escrever uma simples história. Verá como não é algo fácil de fazer. A tarefa envolve tantas dimensões que uma opinião acerca de uma história contada tem que abrangê-las a todas. E é isso que torna difícil dar uma.
Eu gostei muito do conto porque representa um esforço sério e adulto orientado para a criação de algo. Gostei porque foi escrito por alguém de quem gosto. Gostei porque continha ideias interessantes e correctas. Mas isto não chega para uma resposta honesta. Então e os erros que vi? As lacunas que o texto apresentava? As incoerências na exposição das ideias? A confusão no estilo e na narração? Tudo isto são pontos que tenho considerar ao dar a minha opinião. Uma possível saída seria balancear o bom e o mau e dar a minha resposta consoante o lado para que pendesse a balança. Mas esta seria uma saída ainda assim desonesta. Porquê?
Porque quando eu me refiro áquilo de que gostei no conto, consigo perceber a razão por que gostei: O autor expôs as suas ideias de tal forma que dá prazer lê-las no seu texto. Quando me refiro ao que não gostei, não há uma resposta linear. O que me leva a dizer que não gostei desta ideia, ou daquela forma de exposição, ou daquele elemento na história? Há uma razão para tudo ter sido escrito tal como foi. A culpa de eu não gostar é minha? Enquanto leitor inexperiente, menos inteligente, imaturo, se calhar não "alcancei" devidamente o que me estava a ser transmitido. Por outro lado, não é obrigação do autor ser capaz de fazer chegar as suas ideias à cabeça do leitor? Aí, a culpa já é de quem escreve...
Neste "jogo de culpas" estava a ser construída a opinião que lhe havia de transmitir. Para cada um dos elementos com que discordei debati dentro de mim as razões e as causas da minha discordância. Não acho que tenha, apesar de tudo, sido honesto. Procurei, no entanto, ser o mais que pude, o que, por si só, já é uma resposta honesta.
Nota final: Entre os grandes génios da humanidade só chegam aqueles que fizeram mudar toda a opinião acerca de um determinado assunto, aos olhos do conceito abstracto de "humanidade". A "humanidade" considerou-os grandes porque eles tiveram algo a ensinar-lhe. Um novo ponto de vista, uma nova ideia, uma nova visão. À questão "é bom ou é mau?", esses génios provaram que a "humanidade" estava errada e eles certos.