É bom ou é mau?
Aconteceu-me descobrir que essa não era uma tarefa fácil...
De entre muitas questões sobre que fui obrigado a reflectir, uma delas revelou-se tão pertinente quanto aporética: Como dar uma resposta honesta?
A verdade é que não havia uma maneira simples de dar o "feedback" que ele pretendia.
Seria honesto dizer simplesmente "gostei"? Afinal, teria alguma obrigação em lhe dizer as razões. E quais eram essas razões? O que nos leva, a cada um de nós enquanto indivíduos, a criar um gosto por uma coisa e outro por outra? Em determinadas dimensões da vida, como a culinária, esta resposta é fácil de dar: somos educados a gostar de umas coisas e a desgostar de outras. Mas, e quando toca a tarefas como ouvir uma canção, ler um poema, falar sobre um conto... Aí o caso já ganha outros contornos.
Pensei muito nisto, convido-te a pensares também.
Na verdade, este foi o primeiro verdadeiro conto que o meu irmão escreveu. Só é normal que tivesse falhas, algumas grandes até. Sugiro a quem não percebe por que é normal haver falhas, que tente escrever uma simples história. Verá como não é algo fácil de fazer. A tarefa envolve tantas dimensões que uma opinião acerca de uma história contada tem que abrangê-las a todas. E é isso que torna difícil dar uma.
Eu gostei muito do conto porque representa um esforço sério e adulto orientado para a criação de algo. Gostei porque foi escrito por alguém de quem gosto. Gostei porque continha ideias interessantes e correctas. Mas isto não chega para uma resposta honesta. Então e os erros que vi? As lacunas que o texto apresentava? As incoerências na exposição das ideias? A confusão no estilo e na narração? Tudo isto são pontos que tenho considerar ao dar a minha opinião. Uma possível saída seria balancear o bom e o mau e dar a minha resposta consoante o lado para que pendesse a balança. Mas esta seria uma saída ainda assim desonesta. Porquê?
Porque quando eu me refiro áquilo de que gostei no conto, consigo perceber a razão por que gostei: O autor expôs as suas ideias de tal forma que dá prazer lê-las no seu texto. Quando me refiro ao que não gostei, não há uma resposta linear. O que me leva a dizer que não gostei desta ideia, ou daquela forma de exposição, ou daquele elemento na história? Há uma razão para tudo ter sido escrito tal como foi. A culpa de eu não gostar é minha? Enquanto leitor inexperiente, menos inteligente, imaturo, se calhar não "alcancei" devidamente o que me estava a ser transmitido. Por outro lado, não é obrigação do autor ser capaz de fazer chegar as suas ideias à cabeça do leitor? Aí, a culpa já é de quem escreve...
Neste "jogo de culpas" estava a ser construída a opinião que lhe havia de transmitir. Para cada um dos elementos com que discordei debati dentro de mim as razões e as causas da minha discordância. Não acho que tenha, apesar de tudo, sido honesto. Procurei, no entanto, ser o mais que pude, o que, por si só, já é uma resposta honesta.
Nota final: Entre os grandes génios da humanidade só chegam aqueles que fizeram mudar toda a opinião acerca de um determinado assunto, aos olhos do conceito abstracto de "humanidade". A "humanidade" considerou-os grandes porque eles tiveram algo a ensinar-lhe. Um novo ponto de vista, uma nova ideia, uma nova visão. À questão "é bom ou é mau?", esses génios provaram que a "humanidade" estava errada e eles certos.
Compreendo a tua dificuldade numa análise crítica ao livro do teu irmão, mas será que ele pretendia a análise de um crítico? Ou apenas a tua opinião?
Não estava lá, não há forma de poder saber as exactas palavras do R. aquando a amostragem do conto, mas, compreendendo a tua motivação, será que não bastaria um "gostei disto, daquilo e mais aquilo" e "acho que aqui falta isto ou aquilo"?
Se fosse o meu caso também sentiria a preocupação de referir algo mais incisivo que um "ya, está fixe". Iria referir dois ou três pontos, mas de uma forma ténue e geral.
A tua obrigação em especificar os (+) e os (-) deve-se, a meu ver, na honestidade de ambos um com o outro. Tu por quereres, tendêncialmente, o seu sucesso e felicidade, e por parte dele por querer ter o teu (como referiste) feedback. Teu por seres irmão, por estares próximo e também, a meu ver, pela tua cultura e inteligência.
Quanto ao "O que nos leva, a cada um de nós enquanto indivíduos, a criar um gosto por uma coisa e outro por outra?"
e relativamente simples. Vivemos por estímulos onde algo bom e algo que gostamos não estão necessariamente interligados. Isso reflecte-se na música. O que te leva a gostar de um tipo de musica diferente do meu? A musica que ouves é pior ou melhor que a minha? Ou é simplesmente diferente?
Não gosto de Dulce Pontes, não gosto de Madredeus. Não gosto de Madonna e muito menos de Elton John...isso não invalida que saiba reconhecer o valor artístico destes. São bons, são respeito.
O que nos leva a gostar ou não de algo é interno. Posso explicar porque gosto de Eminem, as não te posso convencer a gostar também.
O que é bom ou mau pode não estar a par com o que se gosta.
Gostas do que é bom, mas podes não gostar do que é bom.