Manifestação de Uma Opinião

Qualquer opinião hoje é expressada num blog...e em qualquer blog é expressada uma opinião. Hoje em dia o mundo move-se rodeado de blogs e estes são um prelongamento das noticias diárias, comentando-as, da mesma forma que as impulsionam, fundamentando-as. Manifestação de Uma Opinião justifica a sua existência exactamente pelo seu nome...façam uso dele e expressem a vossa...

2007-04-04

É bom ou é mau?

Há dias atrás, o meu irmão enviou-me um pequeno conto, de dezassete páginas, que ele tinha vindo a escrever desde há algum tempo. Pediu-me que o lesse e que lhe desse a minha opinião acerca do mesmo. Foi o que tentei fazer.

Aconteceu-me descobrir que essa não era uma tarefa fácil...

De entre muitas questões sobre que fui obrigado a reflectir, uma delas revelou-se tão pertinente quanto aporética: Como dar uma resposta honesta?

A verdade é que não havia uma maneira simples de dar o "feedback" que ele pretendia.
Seria honesto dizer simplesmente "gostei"? Afinal, teria alguma obrigação em lhe dizer as razões. E quais eram essas razões? O que nos leva, a cada um de nós enquanto indivíduos, a criar um gosto por uma coisa e outro por outra? Em determinadas dimensões da vida, como a culinária, esta resposta é fácil de dar: somos educados a gostar de umas coisas e a desgostar de outras. Mas, e quando toca a tarefas como ouvir uma canção, ler um poema, falar sobre um conto... Aí o caso já ganha outros contornos.

Pensei muito nisto, convido-te a pensares também.

Na verdade, este foi o primeiro verdadeiro conto que o meu irmão escreveu. Só é normal que tivesse falhas, algumas grandes até. Sugiro a quem não percebe por que é normal haver falhas, que tente escrever uma simples história. Verá como não é algo fácil de fazer. A tarefa envolve tantas dimensões que uma opinião acerca de uma história contada tem que abrangê-las a todas. E é isso que torna difícil dar uma.
Eu gostei muito do conto porque representa um esforço sério e adulto orientado para a criação de algo. Gostei porque foi escrito por alguém de quem gosto. Gostei porque continha ideias interessantes e correctas. Mas isto não chega para uma resposta honesta. Então e os erros que vi? As lacunas que o texto apresentava? As incoerências na exposição das ideias? A confusão no estilo e na narração? Tudo isto são pontos que tenho considerar ao dar a minha opinião. Uma possível saída seria balancear o bom e o mau e dar a minha resposta consoante o lado para que pendesse a balança. Mas esta seria uma saída ainda assim desonesta. Porquê?

Porque quando eu me refiro áquilo de que gostei no conto, consigo perceber a razão por que gostei: O autor expôs as suas ideias de tal forma que dá prazer lê-las no seu texto. Quando me refiro ao que não gostei, não há uma resposta linear. O que me leva a dizer que não gostei desta ideia, ou daquela forma de exposição, ou daquele elemento na história? Há uma razão para tudo ter sido escrito tal como foi. A culpa de eu não gostar é minha? Enquanto leitor inexperiente, menos inteligente, imaturo, se calhar não "alcancei" devidamente o que me estava a ser transmitido. Por outro lado, não é obrigação do autor ser capaz de fazer chegar as suas ideias à cabeça do leitor? Aí, a culpa já é de quem escreve...
Neste "jogo de culpas" estava a ser construída a opinião que lhe havia de transmitir. Para cada um dos elementos com que discordei debati dentro de mim as razões e as causas da minha discordância. Não acho que tenha, apesar de tudo, sido honesto. Procurei, no entanto, ser o mais que pude, o que, por si só, já é uma resposta honesta.

Nota final: Entre os grandes génios da humanidade só chegam aqueles que fizeram mudar toda a opinião acerca de um determinado assunto, aos olhos do conceito abstracto de "humanidade". A "humanidade" considerou-os grandes porque eles tiveram algo a ensinar-lhe. Um novo ponto de vista, uma nova ideia, uma nova visão. À questão "é bom ou é mau?", esses génios provaram que a "humanidade" estava errada e eles certos.

3 Manifestações:

  • At domingo, 8 de abril de 2007 às 19:40:00 WEST, Blogger Flecha Ruiz said…

    Compreendo a tua dificuldade numa análise crítica ao livro do teu irmão, mas será que ele pretendia a análise de um crítico? Ou apenas a tua opinião?

    Não estava lá, não há forma de poder saber as exactas palavras do R. aquando a amostragem do conto, mas, compreendendo a tua motivação, será que não bastaria um "gostei disto, daquilo e mais aquilo" e "acho que aqui falta isto ou aquilo"?

    Se fosse o meu caso também sentiria a preocupação de referir algo mais incisivo que um "ya, está fixe". Iria referir dois ou três pontos, mas de uma forma ténue e geral.
    A tua obrigação em especificar os (+) e os (-) deve-se, a meu ver, na honestidade de ambos um com o outro. Tu por quereres, tendêncialmente, o seu sucesso e felicidade, e por parte dele por querer ter o teu (como referiste) feedback. Teu por seres irmão, por estares próximo e também, a meu ver, pela tua cultura e inteligência.

    Quanto ao "O que nos leva, a cada um de nós enquanto indivíduos, a criar um gosto por uma coisa e outro por outra?"
    e relativamente simples. Vivemos por estímulos onde algo bom e algo que gostamos não estão necessariamente interligados. Isso reflecte-se na música. O que te leva a gostar de um tipo de musica diferente do meu? A musica que ouves é pior ou melhor que a minha? Ou é simplesmente diferente?
    Não gosto de Dulce Pontes, não gosto de Madredeus. Não gosto de Madonna e muito menos de Elton John...isso não invalida que saiba reconhecer o valor artístico destes. São bons, são respeito.

    O que nos leva a gostar ou não de algo é interno. Posso explicar porque gosto de Eminem, as não te posso convencer a gostar também.
    O que é bom ou mau pode não estar a par com o que se gosta.
    Gostas do que é bom, mas podes não gostar do que é bom.

     
  • At segunda-feira, 9 de abril de 2007 às 02:04:00 WEST, Blogger M. said…

    O grande problema do "gostei disto e não daquilo" é precisamente este:

    Dizer-lhe que gostei de algo é dizer que aquilo está bem escrito como está. Dizer que não gostei é dizer que não deveria ter sido escrito como está. Mas, e se devia realmente ter sido escrito como está? Como posso saber como, de facto, é que devia ter sido escrito o que eu acho que está mal? Quais as minhas referências?

    Em suma, o que me leva,, a mim e a qualquer um, a dizer que algo deveria ter sido escrito de outra forma? Geralmente, dizemo-lo através de "não gostei disto", mas acho que o que realmente queremos dizer é que há uma outra forma, que não essa, de dizer o que se queria e, até, que há outras coisas a serem ditas, talvez.

    Segunda questão: Se digo que não gosto de algo, estou a dizer que esse algo não é Bom. Isto porque nós gostamos do que é Bom, imediatamente. Se não gostamos é porque achamos Mau. Mas, se eventualmente for verdade que "Gostas do que é bom, mas podes não gostar do que é bom", então de onde vem o Bom? Quem decide o que é Bom? Etc, etc.

    Acho que são questões insolucionáveis.

     
  • At segunda-feira, 9 de abril de 2007 às 19:34:00 WEST, Blogger Flecha Ruiz said…

    Tu gostas do que é bom, mas podes achar algo bom e não gostares. Dei-te o exemplo da musica e posso dar outros.
    É bom ir para a praia, mas eu não gosto! Detesto praia! Mas percebo o porquê de algumas pessoas gostarem.

    Ninguém decide o que é bom ou mau, tu é que decides por ti mesmo. Podes achar algo bom mas não é apelativo ao teu Ego, não te cativa. Reconheces harmonia, coerência e prazer mas não consideras que aquilo TE dê prazer.
    É complicado explicar, mas uma mente critica (como é a do Homem) consegue ver algo bom mas não gostar.

     

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