Manifestação de Uma Opinião

Qualquer opinião hoje é expressada num blog...e em qualquer blog é expressada uma opinião. Hoje em dia o mundo move-se rodeado de blogs e estes são um prelongamento das noticias diárias, comentando-as, da mesma forma que as impulsionam, fundamentando-as. Manifestação de Uma Opinião justifica a sua existência exactamente pelo seu nome...façam uso dele e expressem a vossa...

2007-09-10

Maddie, Maddie, Maddie

Há mais de 120 dias que Madeleine Beth McCann desapareceu. Mais concretamente, desde o dia 07 de Maio de 2007.

A história já todos a conhecemos. Mesmo quem não se interessa por estas coisas. De tão singelo o caso e de tão inesperadas dimensões que acabou por tomar, começa já a ser apontado como um fenómeno único na imprensa, um “case study” para a academia da judiciária, uma verdadeira e exclusiva novela da vida real.

Perante as dimensões colossais que o caso vai tomando junto das agências e canais noticiosos, não há possibilidade de não nos deixarmos deslumbrar pela importância com que se vai insuflando, a sua imposição no dia-a-dia das pessoas que, de outra forma, tinham já muito com que se preocupar, aparentemente inevitável. Este parece ser um fenómeno que se alimenta a si próprio com o passar dos dias.

Entre o desaparecimento em si, a projecção em ecrãs e folhas dos sentimentos de culpa e tristeza dos pais, as conspirações envolvendo redes de pedofilia e prostituição, os suspeitos, os arguidos, as teses sensacionalistas, as teorias mirabolantes e, muito mais do que isto tudo, a douta sabedoria e o exacerbado debate da opinião pública, a presença duma criança sobre quem muito pouco sabemos mas por quem não conseguimos deixar de sentir qualquer coisa tem preenchido um grande espaço na vida da sociedade.

Duvido de que toda esta mediatização tenha contribuído positivamente para a resolução do caso. É verdade que, quanto mais pessoas forem bombardeadas com a notícia, mais hipóteses há de alguém a reconhecer na rua e alertar as autoridades. Mas isso é apenas um lado da questão. A nossa atenção está a ser sugada de forma doentia por este caso, e nós não só não oferecemos a resistência devida, como nos lançamos nas suas teias com vontade. Parece ser inevitável o envolvimento emocional com a desgraça alheia, a vivência de sentimentos fortes, seja a que custo for, sobre que pretexto for.

Numa reviravolta digna de qualquer filme de Hollywood ou telenovela da TVI, os pais da desaparecida são constituídos arguidos no processo após terem sido encontrados vestígios de sangue pertencente à filha no automóvel, alugado 25 dias depois do desaparecimento, e no apartamento em que se encontrava aquando o sucedido. Perante tamanha trama, a audiência, boquiaberta, indigna-se. Um hiato forma-se instantaneamente: Cremos na culpa ou cremos na inocência. Em qualquer das escolhas, indignamo-nos. Chega mesmo a esboçar-se a ideia de um disputa entre a imprensa inglesa e a portuguesa sobre as respectivas tomadas de posição, com todas as ofensas, vitupérios e imprecações a que se tem direito. Antigos apoiantes e sofredores convictos da tristeza dos McCann lançam agora apupos gratuitos ao casal, insultando-os despeitosos.

No meio de tal comédia, que fazem a imprensa, as televisões e as agências de notícias? Lançam mais achas ao fogo. Numa espiral sem um começo definido, o público pede e a imprensa dá, cada qual alimentando-se dos dejectos de cada um, limpando qualquer culpa que paire sobre si. Se nos embrenhados nesta história interminável, é porque nos sentimos impelidos, enquanto cidadãos briosos, a nos informarmos sobre o que se passa no mundo. Do outro lado, se cabe a responsabilidade de informar imparcial e objectivamente um público ávido de conhecimento, então, procurando arranjar com que nos virarmos nas ruas da amargura que se tornou o negócio da informação e das notícias, alimentamos o guloso glutão com aquilo que se sabe ser o mais saboroso dos acepipes: o sensacionalismo.

Iludidos por todo este efeito perverso de telenovela que se vai gerando dia após dia, semana após semana, mês após mês, ano após ano, não me surpreenderia se chegássemos ao ponto de nos esquecermos de ir votar, de levantar o salário ao fim do mês, de dar de comer aos nossos filhos. É um torpor que se vem abatendo progressivamente, assentando-nos como um sudário, envolvendo-nos numa modorra na qual nos tornamos fragilizados e facilmente manipuláveis.

De lembrar que, desta vez, a contribuição para o entorpecimento geral tenha sido dada às custas de uma miúda desaparecida.

2 Manifestações:

  • At terça-feira, 11 de setembro de 2007 às 20:47:00 WEST, Blogger Flecha Ruiz said…

    Também já tinha pensado em escrever qualquer coisa sobre esta fantochada, não de caso, mas de novela que se arranjou. Só não o fiz por querer que acabasse para uma opinião formal e conclusiva. Opinião essa que será transmitida uma única vez na sua globalidade e não mais discutida ou explica. Faço-o por achar que já é falado de mais por isso reservo-me.

    No entanto posso transcrever literalmente aquilo que dizes e aquilo que pensas, embora seja um pouco mais radical na maneira como direi as coisas. Não porei outro Post, comentarei no mesmo após término do caso.


    Pequeno je ne sais quois. Indubitavelmente nos últimos tempos temos tido pensamentos muito semelhantes naquilo que queremos. É com saudade que noto isso, pena que as nossas conversas sejam quase sempre por aqui ou por uma mensagem a combinar encontro que é declinado por motivos inadiáveis.

     
  • At quarta-feira, 12 de setembro de 2007 às 17:48:00 WEST, Blogger Barba Rija said…

    Eu já o fiz. e não fui simpático. Basicamente, para mim, quem me falar outra vez nesta treta, leva um murro. aqui nao se aplica nao só por razões físicas óbvias, mas porque ninguém me obrigou a ver o blog...

     

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