Manifestação de Uma Opinião

Qualquer opinião hoje é expressada num blog...e em qualquer blog é expressada uma opinião. Hoje em dia o mundo move-se rodeado de blogs e estes são um prelongamento das noticias diárias, comentando-as, da mesma forma que as impulsionam, fundamentando-as. Manifestação de Uma Opinião justifica a sua existência exactamente pelo seu nome...façam uso dele e expressem a vossa...

2008-03-29

Sobre puzzles

A obra de arte é, possivelmente, o maior puzzle de todos.
No que o autor quer dizer, no que a obra desperta em nós, na forma como o faz.
De tão labiríntica que pode ser, não poucas vezes nos deixamos deslumbrar e nos entregamos, sem palavras, à volupia que nos descarrega. Nas mais simples, como nas mais complexas, enquanto seres sensíveis fazemos da arte uma manifestação sem possível hierarquia, cada uma com um valor singular e único.
E ainda bem.




Kandinsky,Composition VIII, 1923

2008-02-27

No final...correrá tudo bem

Os Puzzles mais bonitos são os mais dificeis. Tem milhentas peças, são mais pequenas,o seu posicionamento é menos claro e é preciso paciência e atenção.

Temos que começar pelo básico, os cantos. Sem termos os cantos a terefa é mesmo muito árdua...é essêncial para poder começar a construir o puzzle. Depois tenta-se unir os cantos fazendo uma moldura. Enquadramos a imagem e vamos construindo o miolo a partir daí.
No início estamos excitados e as peças vão surgindo. Há entusiasmo, há votade e muitos sítios por onde ir pegando e montando. A figura vai-se constituindo, a parte mais fácil é feita sem problemas.

Com o passar do tempo o ânimo vai decrescendo, a concentração dispersa-se e vamos passando menos tempo de volta do puzzle. Vamos pondo uma peça ou outra mas como começa a ser mais trabalhoso vamos baixando os braços. A certa altura só apetece mandar o puzzle ao ar, voltar a arrumá-lo e fazer outro puzzle qualquer, outra coisa qualquer. Praguejamos e juramos que já procurámos 10 vezes as peças necessárias mas elas teimam em não aparecer, não existem...o puzzle não pode ser acabado.

Mas se acharmos que o puzzle vale a pena, que a imagem é bonita, que gostamos do puzzle e que, apesar de ser dificil, o puzzle dá prazer de fazer...então não baixamos os braços. Insistimos e, finalmente, encontraremos a tal peça que faltava e parecia desaparecida! De repente, parece que surgem todas de seguida e os buracos vão diminuindo...o entusiasmo volta e, entretanto, já tinhamos montado algumas peças de lado por isso basta agarrar nesse conjunto e juntá-lo à moldura. Finalmente começa-se a compor, a ganhar vida e a emoção volta!

É um puzzle dificil, as peças estão meias escondidas...mas tem-nas todas e por isso pode ser feito.
E o resultado final...ainda é mais bonito do que a imagem da caixa.

2008-01-23

Musica Vazia


Outro dia estava em casa a ver um dos programas da MTV, o "MTV YO!". Programa esse que se destina a apresentar novos beats e sons de Hip-hop, assim como desenterrar verdadeiros clássicos do Hip-hop/Rap. Basicamente é um programa dedicado ao Hip-hop e aos amantes deste género musical, tanto a nível nacional como internacional.

Há um par de dias estava a ver e começo a reparar que as musicas tinham falhas e vazios, interrupções e silêncios. Rimas que não faziam sentido, que se perdiam ou que não terminavam...Era a Censura MTV a actuar! Hip-hop, para quem não conhece, é suposto ser agressivo, quebrar barreiras, é suposto ser forte e directo. Hip-hop é letra, é asneirento e incisivo...é para chocar valores, para revolucionar costumes! Quer a letra seja apaixonada, revolucionária ou cómica será sempre agressiva na sua diferente vertente. Tal como os outros tipos de música, este tem o seu estilo, apreciado por quem quer e por quem não se deixa impressionar por essa agressividade...

Estar a censurar uma expressão agressiva ou uma asneira numa canção de Hip-hop é a mesma coisa que censurar a Britney Spears a dizer 'I love you forever, let us stay together' ou Robbie Williams dizer 'Be my whife for one night'...é esse o espirito que estes dois cantores querem transmitir na letra! São estas frases que são o centro, a inspiração e o conteúdo da letra, da mensagem que é suposto transmitir! Se um rapper diz "Go fuck yourself and everybody else, I'll shoot ya live and I still will survive" ou "I'll hav' ya from behind 'till I come, then you'll enjoy to get some" é porque é este o objectivo do artista! É ser exactamente aquilo que diz! Tirem estas frases e matam o estilo...falam em protecção de mentes que se podem impressionar mas depois tem programas que não lembram ao diabo! Sim, porque o MTV YO! passa depois das 23, não haverá muitas susceptibilidades a ferir.

A musica que me movimentou a manifestar a minha opinião foi "Protect Ya Neck (The Jump Off)" dos Wu Tang Clan, uma das minhas preferidas do grupo. Quem conheça a musica sabe que está cheia de expressões como as supra descritas, o que faz com que metade da musica seja passada na MTV censurada...basicamente ouve-se o beat e preposições, tudo o resto temos que adivinhar pelos movimentos da boca dos artistas! Que durante o dia censurem, já é mau...mas que censurem num programa especial sobre o estilo e que só iria ser visto por quem gosta do estilo é completamente descabido. E não é só ao Hip-hop que a censura rosna...se houver uma asneira é para cortar. Eu acho que se o artista lá pos a asneira é para ela lá estar...Alguém tapou os genitais ao David de Michelangelo? O princípio é o mesmo!

O meu humilde recado para a MTV é este - Parem com as censuras das musicas e comecem é a censurar os programas de nojo que têm como "Next", "Date My Mom", "Room Raiders" ou "MTV Made"... A última vez que vi MTV era Music Television!

2008-01-14

Boas Gargalhadas

Vi aqui que vai estar no nosso País um dos maiores cómicos e artistas de sempre para um projecto teatral.

Isso fez-me lembrar as horas ganhas em frente à T.V. a ver humor no seu melhor - Monty Piton! Apresentaram-nos sátiras como "A Vida de Brian", "Em busca do Santo Graal", "Erik, o Viking" e ainda os famosos sketchs de "The Flying Circus". Há formas de fazer rir e depois há o refinadíssimo humor Inglês que me faz sentir-me realmente bem disposto. Adoro as piadas inteligentes, os trocadilhos, as referências e as palhaçadas...
Não podia de deixar de trazer a este blog estes génios do bem fazer rir. Claro está que nem toda a gente aprecia este humor...preferem ficar-se por Benny Hill e é o máximo que se aventuram no humor britânico. Benny Hill, para mim, é humor americano com bases no inglês - Tem os seus momentos mas no geral é fraquito.
Agora...'Monty Piton', 'Little Britain', 'Yes, Minister', 'Allô Allô' e Mr Bean encantam-me, entre muitos. Smith and Jones...é o delírio. Bom humor, sketches brilhantes e "punch lines" do mais perspicaz possível. Pena passarem tantos American Pie e Jim Carrey nos meios de comunicação...é outro tipo de humor, mais físico e com piadas mais simples e de fácil compreensão por parte do público. Não é tão profundo, não aprecio tanto. Diz-se, e confirma-se, que o humor inglês é mais inteligente...eu simplesmente digo que é Excelente. Não fosse a minha mãe e nunca teria tido contacto com esta forma de apresentação humorística, estou-lhe grato.
E com isto...Good Night! Tlim! Tlim! Tlim!

2008-01-08

Mais ideias inteligentes de gente iluminada


Agora, em Portugal, celebra-se a Passagem de Ano tipo Iraque ou Afeganistao...lastimavel!

Nada mais a dizer...

2007-12-24

Referendar a abstenção

Sou a favor do referendo sobre o Tratado de Lisboa.
Muita gente também o é, mas muita dessa gente é-o por moda... Passo a explicar.
Como é normal critica-se o trabalho do Governo, quer esse Governo seja bom ou mau, quer as medidas implementadas sejam boas ou não...O Governo de Sócrates não é excepção. Agora critica-se e critica-se que o Gov Socialista não quer referendo, Cavaco pouco diz (normal) e Durão Barroso não tem nada a ver com isto (e acho bem).

Agora pensemos...qual foi a taxa de abstenção nos últimos referendos? Quais foram as taxas de abstenção nas eleições dos últimos 10 anos? Não estou a dizer que se deva deixar de ser democrata só porque a maior parte dos votantes não exercerem o seu Direito\ Dever, mas pensando no custo de um Referendo e nos resultados que vai ter...eu também estaria relutante em fazer se mandasse. Fá-lo-ia por uma questão de princípio, mas não o faria porque a população clamava por ele.

Claro está que os resultados a nível europeu desagradam aos Governantes, daí a falta de vontade...mas sinceramente, quantos vão votar?
Sou a favor da consulta popular, mas se a população não se faz consultar, então qual é o objectivo? Votem, opinem e as coisas começam a ter razão de ser. Não o façam...então não refilem com que quer que seja decidido pelos governantes, ou pelos que votam. O que a maioria das pessoas não sabe é que o referendo só é vinculativo se tiver uma adesão superior a 50%, ou seja, mesmo que 100% das pessoas que vão votar votarem contra, se só for 40% da população, o Gov continua (legalmente) legitimado a fazer o que entender. Há sempre a desculpa que está sol de mais, chuva de mais, nevoeiro de mais, ameno de mais, fim-de-semana perlongado, fim-de-semana curto, blá blá blá!

Balelas, votem...façam valer o esforço de quem conquistou esta (ou quaisquer outras) forma de consulta popular.

2007-12-15

Ano Novo. com menos fumo


Uma das leis que aguardo com maior ansiedade é a da restrição de fumo em lugares públicos, i.e. , em todo o local fechado em que o fumo poderá incomodar terceiros. Haverá em alguns locais, consante a área, zonas reservadas a fumadores, mas na maioria dos sítios acabou.

Finalmente vou poder ir a um Restaurante sem levar com o fumo dos outros e vou conseguir comer sem xeiros e odores. A comida vai-me saber a comida, os olhos não vão arder, vou conseguir respirar como deve ser e não vou sair de lá a tresandar.

"Um cigarrinho depois da refeição sabe bem" - dizem os fumadores. "Vamos perder clientela" - diz o pessoal da restauração". "Quem não quer fumar é que não devia ir para sitios com fumo." - Afirmam ambos.

Eu digo que realmente sabe bem um cigarro após a refeição, mas será que o não-fumador da outra mesa e que ainda não acabou de comer tem que levar com esse fumo? Ou mesmo que tenha acabado a questão mantém-se! Quanto aos senhores da restauração apenas posso pedir para ganharem juízo...as companhias aéreas temiam o mesmo e nunca perderem clientes por esse motivo. Por último, faço uma pergunta a tal afirmação: Então o não-fumador vai para onde? É que tirando a minha casa e aeroportos não sei de outro sítio livre de fumo!

Há algo que a maioria dos fumadores não percebe e não quer perceber: Tabaco é uma merda! Se o fumador quer comer merda é com ele, não tem que obrigar os outros a fazê-lo. E não os obrigar não é só levantar o cigarro, isso ajuda em pouco, é PARAR de fumar ao pé dos outros.

Sinto-me mesmo muito satisfeito com esta nova lei. Ah...uma curiosidade, eu sou fumador. Na minha luta para deixar o vício consegui reduzir de tal forma em que passo dias sem fumar, e quando fumo é o tal cigarrinho após a refeição ou numa noite de copos. No entanto compreendo a urgência e razoabilidade desta nova lei e apoio afincamente a extensão da lei às ruas. Como fumador defendo que só se deveria poder fumar em locais privados como casa, carro, etc. Isto não só para aliviar ainda mais o fumo que o não-fumador apanha mas também para suavizar a poluição das ruas e o nojo que está o chão por causa de beatas.

Aplaudo!

2007-10-01

Devagar não se vai ao longe

Portugal é conhecido, sobretudo por quem cá vive há muito tempo, como o país onde a Justiça tem um ritmo muito particular, próprio do país, e como que em sintonia com as pessoas que o preenchem. Não bastando esta sua característica inerente, tem também uma outra tão bem enraizada como a precedente: Uma natural aversão à mudança. Dir-se-ia sermos um país de brandos costumes... brandos e intocáveis.

Recentemente brotou desta nossa inesgotável fonte de polémicas, que é a Opinião Pública portuguesa e adjacentes meios de comunicação, mais um daqueles infindáveis e prolixos debates cujo objectivo muito pouca gente tem a felicidade de vislumbrar. Desta feita, debruçou-se sobre o novo Código de Processo Penal.

O governo lançou um conjunto de medidas com o principal objectivo de acelerar o processamento da justiça, nomeadamente fazendo subir de três para cinco anos o limite mínimo das penas que permite a aplicação da prisão preventiva, e encurtando o tempo concedido à investigação de determinados crimes.

Imediatamente inúmeras vozes se levantaram, protestando, ora contra a libertação de presos preventivos, consequência da aplicação de carácter retroactivo da lei a 15 de Setembro, ora contra a escassez do tempo disponível para a investigação de certos crimes, sobretudo os de colarinho branco.

Independentemente da qualidade das alterações efectuadas, tratou-se de um esforço claro para melhorar o funcionamento da justiça e dos tribunais. Todos os entraves levantados com todo o discurso proferido contra as medidas, certamente com razão de ser em alguns casos, mas na maioria das vezes vazio, redundante e fruto unicamente do contraste entre as cores partidárias e do hábito de fazer oposição com o medo de perder a identidade, apenas veio contribuir para atrasar ainda mais a mudança, claro sinal da falta de hábito, e, por conseguinte, para piorar a situação.

De resto, tudo isto não importaria, e constituiria talvez até um prazer seguir de perto tão acalorada refrega que qualquer pretexto serve para esquentar, não fosse o simples facto de estarmos, com isto tudo, a piorar a vida das pessoas. Esquecermo-nos disto parece acontecer fácil e frequentemente.

O caso de Esmeralda Porto veio lembrar-nos vivamente das consequências que tem todo o atraso de que padecemos na área da Justiça.

Quando o seu caso começou, a criança era ainda um bebé de três meses. Já lá vão 4 anos e sete meses. Depois de ser dada para adopção pela sua mãe biológica, Aidida Porto, foi entregue a Luís Gomes e Adelina Lagarto. Passado uns meses, Baltazar Nunes, o pai de Esmeralda, assumiu a paternidade e recorreu a tribunal para conseguir a sua tutela. Tendo direito a ela, segundo a decisão do Tribunal de Torres Novas, esta não aconteceu na prática e o bebé permaneceu nas mãos do casal adoptivo. Isto porque, no seu pleno direito, o mesmo decidiu recorrer da decisão junto do Tribunal da Relação de Coimbra. Anos e meses de laboriosas investigações e infindáveis debates depois, no passado dia 26 de Setembro foi conhecida a aprovação dada pelo juiz de Coimbra à decisão já tomada anteriormente, ou seja, a favor do pai biológico. Não saciados de Justiça, o casal ameaça agora recorrer de novo, desta feita junto do Supremo Tribunal, ameaçando igualmente arrastar o caso por mais tempo ainda.

Escusado será apontar a injustiça cometida, no meio da história, à agora pequena criança Esmeralda. É que, com o passar do tempo, o bebé tornou-se criança, criou raízes, habituação, laços de parentesco e amor com quem tem vindo a crescer, Luís Gomes e Adelina Lagarto. Com que direito, para além de todo aquele em que estão embebidos os tribunais, se lhe pode pedir que conheça um novo pai, uma nova casa, crie novas relações e uma nova identidade?

E a pergunta repete-se de todos os pontos de vista da história. Com que direito privar o casal do amor e companhia de uma criança que, à parte o código genético, é sua? E de que justiça impedir um pai de conhecer a própria filha, uma pessoa que, desde que soube da sua paternidade, não mais descansou enquanto não a tem consigo?

Da mesma forma, os dedos podem ser apontados a cada personagem, como têm vindo a ser. Impera sobretudo o argumento de que nenhuma das partes age a pensar na criança, que vêem apenas o seu umbigo e a sua posição no caso. Querem vencer a todo o custo.

Mesmo a decisão dos juízes não pode ser apontada como a causa de todo o escândalo. Tendo decidido, de sua justiça e com base em juízos que temos que encarar à partida como justos e imparciais, a favor do pai biológico, tomaram uma posição que, dado o seu papel na sociedade, deve ser aceite.

Porém, dados os contornos do caso, esta decisão, por mais acertada que tenha sido, tem um prazo de validade. É que, se quando foi tomada, há 4 anos e 7 meses atrás, ela era correcta, com o passar do tempo e o crescimento da menina deixou de o ser. Isto porque a mudança de lar e de familiares aos 5 anos de idade provocará um défice de desenvolvimento social que todos poderão vir a lamentar mais tarde, fruto do rompimento com aquilo que tem, ao nível emocional sobretudo, constituído o seu mundo, algo que muito dificilmente aconteceria num bebé de 3 meses.

Conclui-se por isto que o verdadeiro inimigo desta menina e causador de todo o imbróglio, cujas consequências e desenlace ainda estão por apurar, é o mesmo que o governo procurou combater com a revisão do Código do Processo Penal e que toda a redundante onda de contestação que, apenas por uma questão de hábito, se levantou ao mínimo sinal de uma mudança, alimentou: A lentidão da Justiça em Portugal.

Dir-se-ia que nem sempre devagar se vai ao longe.

2007-09-15

Qual o mais feliz?


2007-09-10

Maddie, Maddie, Maddie

Há mais de 120 dias que Madeleine Beth McCann desapareceu. Mais concretamente, desde o dia 07 de Maio de 2007.

A história já todos a conhecemos. Mesmo quem não se interessa por estas coisas. De tão singelo o caso e de tão inesperadas dimensões que acabou por tomar, começa já a ser apontado como um fenómeno único na imprensa, um “case study” para a academia da judiciária, uma verdadeira e exclusiva novela da vida real.

Perante as dimensões colossais que o caso vai tomando junto das agências e canais noticiosos, não há possibilidade de não nos deixarmos deslumbrar pela importância com que se vai insuflando, a sua imposição no dia-a-dia das pessoas que, de outra forma, tinham já muito com que se preocupar, aparentemente inevitável. Este parece ser um fenómeno que se alimenta a si próprio com o passar dos dias.

Entre o desaparecimento em si, a projecção em ecrãs e folhas dos sentimentos de culpa e tristeza dos pais, as conspirações envolvendo redes de pedofilia e prostituição, os suspeitos, os arguidos, as teses sensacionalistas, as teorias mirabolantes e, muito mais do que isto tudo, a douta sabedoria e o exacerbado debate da opinião pública, a presença duma criança sobre quem muito pouco sabemos mas por quem não conseguimos deixar de sentir qualquer coisa tem preenchido um grande espaço na vida da sociedade.

Duvido de que toda esta mediatização tenha contribuído positivamente para a resolução do caso. É verdade que, quanto mais pessoas forem bombardeadas com a notícia, mais hipóteses há de alguém a reconhecer na rua e alertar as autoridades. Mas isso é apenas um lado da questão. A nossa atenção está a ser sugada de forma doentia por este caso, e nós não só não oferecemos a resistência devida, como nos lançamos nas suas teias com vontade. Parece ser inevitável o envolvimento emocional com a desgraça alheia, a vivência de sentimentos fortes, seja a que custo for, sobre que pretexto for.

Numa reviravolta digna de qualquer filme de Hollywood ou telenovela da TVI, os pais da desaparecida são constituídos arguidos no processo após terem sido encontrados vestígios de sangue pertencente à filha no automóvel, alugado 25 dias depois do desaparecimento, e no apartamento em que se encontrava aquando o sucedido. Perante tamanha trama, a audiência, boquiaberta, indigna-se. Um hiato forma-se instantaneamente: Cremos na culpa ou cremos na inocência. Em qualquer das escolhas, indignamo-nos. Chega mesmo a esboçar-se a ideia de um disputa entre a imprensa inglesa e a portuguesa sobre as respectivas tomadas de posição, com todas as ofensas, vitupérios e imprecações a que se tem direito. Antigos apoiantes e sofredores convictos da tristeza dos McCann lançam agora apupos gratuitos ao casal, insultando-os despeitosos.

No meio de tal comédia, que fazem a imprensa, as televisões e as agências de notícias? Lançam mais achas ao fogo. Numa espiral sem um começo definido, o público pede e a imprensa dá, cada qual alimentando-se dos dejectos de cada um, limpando qualquer culpa que paire sobre si. Se nos embrenhados nesta história interminável, é porque nos sentimos impelidos, enquanto cidadãos briosos, a nos informarmos sobre o que se passa no mundo. Do outro lado, se cabe a responsabilidade de informar imparcial e objectivamente um público ávido de conhecimento, então, procurando arranjar com que nos virarmos nas ruas da amargura que se tornou o negócio da informação e das notícias, alimentamos o guloso glutão com aquilo que se sabe ser o mais saboroso dos acepipes: o sensacionalismo.

Iludidos por todo este efeito perverso de telenovela que se vai gerando dia após dia, semana após semana, mês após mês, ano após ano, não me surpreenderia se chegássemos ao ponto de nos esquecermos de ir votar, de levantar o salário ao fim do mês, de dar de comer aos nossos filhos. É um torpor que se vem abatendo progressivamente, assentando-nos como um sudário, envolvendo-nos numa modorra na qual nos tornamos fragilizados e facilmente manipuláveis.

De lembrar que, desta vez, a contribuição para o entorpecimento geral tenha sido dada às custas de uma miúda desaparecida.
 
http://www.youtube.com/watch?v=EbJtYqBYCV8
D12 - Girls

Music Code provided by Song2Play.Com