Natal
Cá está, e fala sobre o que um "post" de Natal deve falar:
Sobre como o Natal vai mal, como já não é o que era, como não é nem nunca foi o que era suposto ser, como é só para as crianças, como está contaminado pelo virúlico consumismo, como é uma típica época de depressão porque, como diria o Calvin, as pessoas odeiam ser boazinhas...
... não.
A mensagem que procuro deixar é um pouco mais positiva, porque, a acrescentar ao que vai mal um tom negativo, não estamos decerto a melhorar nada. Sendo assim:
Eu gosto do Natal. Gosto porque procuro olhá-lo, não com os óculos quiméricos de um "por acontecer", mas com aqueles que as pessoas usam o resto do ano. Durante o ano as pessoas falam do que aconteceu no Natal, quando calha falarem disso, daquilo que comeram, do convívio de que desfrutaram na consoada, das peripécias que isso envolveu, das férias que tiraram antes e depois, dos enfeites todos bonitos, das luzes que lembram um mundo melhor só porque brilham à noite nas árvores. E, ao fazê-lo, invocam uma nostalgia doce, que inadvertidamente as faz desejar estar nesta época. Quando cá chegam.. chegam com os óculos quiméricos do "devia ser assim", lançando um manto obscuro de pessimismo e desperança no mundo e no acontecimento em si.
Porquê? Porque nunca estão bem onde estão. É assim que é o ser humano. Esta capacidade nossa de imaginarmos a perfeição das coisas leva-nos a crer que onde não estamos é onde devemos estar, e esse sítio idílico é sempre melhor do que este sítio real onde nos encontramos.
Eu gosto do Natal porque, face à rotina do ano todo, este leva-me a uma ruptura provocada por pensamentos e sensações novas, inseridos agora naquilo a que se chama vulgarmente "espírito natalício". A prova de que as pessoas também podem gostar dele, apenas com uma mudança de visão sobre a coisa, é que não há quem fique indiferente ao Natal. Temos é que olhar essa diferença de uma forma positiva.
O Natal é bom e eu gosto do Natal porque gosto de saber que vou ter um jantar e um almoço de família, as pessoas que conheço melhor e com quem melhor me dou. Sei que vai haver comida boa e doces bons também. Sei que algumas sensações novas de alegria me irão invadir ao longo desta época, e só esse pensamento me faz já sentir alegre.
Então e aqueles que nada têm?
Aqueles que não têm um jantar onde ir, pessoas com quem falar?
Devo ficar triste por causa da situação deles? Não. De que serve ter 6 vírgula tal mil milhões de pessoas tristes porque 4 vírgula tal mil milhões delas não têm amigos nem comida no prato? Eu digo que serve para piorar as coisas.
Devo ficar indiferente? Não. Não ignoro o sofrimento das pessoas; talvez procure até ajudar em alguma coisa. Mas ficar triste com isso? Aí não ajudo ninguém.
Assim: O Natal é bom e eu gosto do Natal. Gosta tu também do teu! :)
Essa questão da perseverança humana em nunca estar satisfeito e ainda o outro ponto por ti apontado sobre a altura festiva e "espirito natalício" em que nos apresentamos está (permitam-me a adjectivação) genialmente metaforizada no Espirito do Natal Passado, no Espirito do Natal Presente e no Espirito do Natal Futuro de Charles Dickens.
Em 1843 surge "A Christmas Carol(Cântico de Natal)", ainda hoje é lido e referenciado por uma série de gerações. Uma forte e inesquecível referência à mente humana por alturas do Natal.
Pessoalmente o Natal é uma altura de festejo. Cada um festeja aquilo que quer, mas festeja. Não é preciso festejar-se o nascimento de Cristo, o Pai Natal ou as prendas. Não é preciso festejar-se mais um ano que passou, a familia presente ou as comidas pitorescas...mas festeja-se sempre qualquer coisa, nem que seja o fim das emissões do "Natal dos Hospitais".
Saudosamente Natalício, Flecha Ruiz
Cumprimentos a familia, C.S.C., amigos, colegas e conhecidos.
Paka, ars amandi amari discitur