"Condenem-me. Não interessa. A História absolver-me-á"

No momento em que o ditador Cubano está na iminência de deixar a governação que se prolonga há 46 anos e a vida, ser-me-ia impossível não referir um pouco da sua História. História essa que divide opiniões desde "herói libertador" a "assassino despótico".
Não me cabe essa avaliação porque não possuo dados suficientes que me permitam fazê-lo, mas posso referir que o respeito e partilho certos ideais...confesso até alguma admiração, não em tudo, mas na fé, entrega e luta deste líder inquestionável.

Fidel Ruz Gonzalez Castro nasceu em 1926, filho de Ángel Castro numa relação adúltera com uma das empregadas. Estudou em colégios católicos pagos pelo abastado pai ausente e tirou o curso de Direito na Faculdade de Direito de Havana, onde chegou a ser presidente da Associação de Estudantes.
Ingressou na faculdade em 1945, altura em que Cuba era um país instabilizado por lutas internas. Os partidos políticos discutiam de arma em punho e até os alunos universitários transportavam essa agressividade para as eleições das Associações de Estudantes. A ilha estava nas mãos dos E.U.A. e o Governo era um mero fantoche daqueles, as acções de guerrilha aumentavam...a situação estava incomportável.

Alistou-se no Partido Ortodoxo, partido esse que defendia políticas sociais e o fim da influência norte-americana, numa altura em que o ex-presidente corrupto Fulgencio Batista liderou um Golpe de Estado que impôs uma ditadura de direita que abraçava um sistema de corrupção, monopólio económico de famílias abastadas e uma, ainda, maior aproximação aos E.U.A..
Fidel procurou, então, meios legais para questionar e derrubar o regime. Meios esses que passaram pela entrega de uma petição, no Tribunal Constitucional, que alegava a Ilegalidade e Inconstitucionalidade das acções do Governo. A petição nem lida foi, o que moveu Fidel para a violência. Assumiu-se como "Comandante", foi buscar o irmão Raúl Castro e organizaram um ataque ao Quartel de Moncada onde estavam cerca de 1000 homenzinhos soldados. A ideia era boa! Na noite anterior haveria a festa de Santiago e os apenas 135 homens vestidos com fardas do exército e em coluna de Escolta a alta patente, procuravam aproveitar a possível ressaca matutina. O ataque foi, no entanto, mal sucedido devido a desorientação dos veículos.

Fidel Castro foi capturado, julgado e condenado a 15 anos. Durante as alegações finais do julgamento refere (já que se defendeu a si mesmo): " Não receio a prisão, como não receio a fúria do tirano miserável que roubou a vida a 70 dos meus camaradas. Condenem-me. Não interessa. A História absolver-me-á".
Dois anos mais tarde Batista concedeu uma amnistia política numa tentativa de acalmar os ânimos populares. Fidel foi um dos preso políticos soltos e aproveitou para se exilar no México onde conheceu o argentino Ernesto "che" Guevara, perito em guerrilha.

A partir daí Fidel teve mais cabeça e os seus planos eram pensados. Pediu apoio ao KGB e a Carlos Socarras e voltou para Cuba no famoso "Granma" com 82 homens. Devido a diversas complicações foram capturados e mortos por Batista na costa cubana. Apenas, acredita-se, 12 homens conseguiram fugir. De entre eles encontrava-se Fidel (que pôs o seu B.I. no bolso de um companheiro desfigurado, o que lhe deu tempo e espaço para se reorganizar), Raúl Castro, Ernesto Guevara e Camilo Cienfuengos. Estes "12 magníficos", como são conhecidos, fugiram para as colinas de Sierra Maestra, onde se organizaram e começaram com pequenos ataques de guerrilha. Apelidaram-se de "los barbudos" e recebiam o entusiasmo da população que os alimentava, escondia e se unia nas campanhas guerrilheiras. Estávamos no ano de 1957.
Um ano mais tarde (Cuba era o "casino" dos Americanos que iam lá jogar, beber e dormir com as prostitutas) começaram as mensagens de revolução. Castro aparecia em jornais, folhetos e TV, convocou uma greve geral e referia-se como um patriota que queria derrubar a governação corrupta. "Los Barbudos" não queriam o poder, apenas destituir o actual e regressar ao seu quotidiano.

No mesmo ano Fulgencio Batista enviou 12 mil homens contra os 300 de Fidel. No entanto, a geografia do local, a má preparação de 7 mil deles, a juventude idealista de muitos e a perseverança e eloquência de Castro fez com que a "Operação Verão" fosse mal sucedida em 2 aspectos. Em primeiro lugar nem chegaram perto de "los barbudos" e em segundo muitos soldados desertaram e engrossaram as fileiras de guerrilha castrense.
As acções de protesto sucederam-se e o Presidente Batista fugiu para a República-Dominicana.
Após algum tempo Fidel entra em Havana com o apoio da população que gritava "Gracias Fidel, esta és tu casa!".

A partir daí foram 46 anos no poder. Ernesto Guevara afastou-se de Fidel por motivos não esclarecidos, Huber Matos foi preso por 16 anos e Cienfuengos desapareceu num acidente de avião cujos destroços não foram encontrados. Humberto Sori foi detido e acusado de actividades contra-revolucionárias e fuzilado com 20 tiros na cabeça.
O grupo de Direitos Humanos "Freedom" refere que, pelo menos, 500 mil pessoas foram presas nos 3 anos que se seguiram à tomada de posse e um número inexacto de execuções (de 5 mil a 20 mil) foram ordenadas.

Fidel Castro impôs em Cuba um regime que parece funcionar apesar de, só agora, o Embargo imposto por Kennedy ter sido levantado e as portas abertas ao Turismo. As opiniões dos cubanos dividem-se, pois muitos choram a sua possível morte, outros rejubilaram com o seu estado crítico.
Mas a sua liderança obteve frutos, e o princípio Maquiavélico "os meios são justificados pelos fins" está tatuado no pensamento do líder cubano. Para o bem e/ou para o mal, este senhor será lembrado.



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