Manifestação de Uma Opinião

Qualquer opinião hoje é expressada num blog...e em qualquer blog é expressada uma opinião. Hoje em dia o mundo move-se rodeado de blogs e estes são um prelongamento das noticias diárias, comentando-as, da mesma forma que as impulsionam, fundamentando-as. Manifestação de Uma Opinião justifica a sua existência exactamente pelo seu nome...façam uso dele e expressem a vossa...

2006-09-04

Como avalias tu as tuas opiniões?

O "post" “Férias na multidão” refere-se a uma questão profunda e complicada, ainda que sem uma intenção directa. A vinda de muitos brasileiros tem alterado o nosso modo de vida. Com cada um que entra no nosso país um pouco da cultura que é a deles entra também, um pouco do seu maneirismo, do seu jeito de viver a vida. Este "input" cultural ocupa espaço na vida de quem cá está. Esse espaço poderia, decerto, ser preenchido pela cultura nativa, a nossa, a portuguesa. Este fenómeno transmite-nos a sensação de perda de identidade nacional, provocando um certo desgosto que, acompanhado de um sentimento de raiva por nos terem atingido no nosso cerne cultural, conduz-nos à descriminação e à ênfase, a meu ver, despropositada com que foi redigido o "post".

Quero com este "post" apenas deixar quatro ideias que, possivelmente, vos acompanharão quando pensarem sobre um assunto como este (é um pouco grande por isso leiam apenas se quiserem mesmo saber a minha contribuição):

A primeira é a ideia de que o mundo não é feito de compartimentos estanques a que se deu o nome de países e onde se colocaram grupos completamente diferentes de pessoas para que vivessem de maneiras completamente diferentes. Não, o mundo é um todo dinâmico, um organismo gigante ocupado por diferentes criaturas, todas com a pretensão de sobreviver, que farão de tudo para o conseguir. Nisto se inclui a vida em grupo, a partilha de um espaço comum, a segurança que advém da inter ajuda. Como consequência disto, os modos de vida serão partilhados, os hábitos continuamente adquiridos, e uma cultura formada. Este é um processo infindo, rápido, inevitável. À luz desta ideia, não fará muito sentido encarar a mistura de culturas com raiva, desprazer ou espanto. É uma simples consequência. Aconteceu quando descobrimos o Brasil. Acontece agora quando os brasileiros "descobrem" Portugal.

A segunda ideia liga-se com a capacidade dos "media" de construírem imagens simplistas nas cabeças de cada um de nós sobre um qualquer assunto que queiram. Aquilo a que Kundera chama de “imagologia”. Consequência deste seu poder é a crença em que em África apenas haja areia, animais exóticos, pretos escanzelados e fome; em que na Finlândia todos são honestos e trabalhadores e muito, muito felizes; em que a maioria da população americana é menos inteligente que a maioria da população europeia ou asiática; em que quem vai para o Brasil irá ser esfaqueado, que lá todos roubam ou são milionários, que todos falam muito alto e que dizem constantemente piadas de mau gosto. Acreditar nisto é renegar a opção de querer saber a verdade e servir apenas de porta-voz de outros. Tudo aquilo que nos é dito, seja por quem for, por que meio for, é-nos dito com um determinado propósito, com a intenção de reagirmos ao que nos é dito de uma determinada forma.

A terceira ideia surge como um pequeno exercício que gosto de praticar, ainda que me custe, quando trato de assuntos sem solução, e que vos convido a praticar também. É simplesmente porem-se na pele de todos quanto tenham algo a dizer sobre um determinado assunto. Questionarem-se "por que pensará ele isto?", "o que o leva a pensar que tem razão?", "por que não consegue perceber ele o meu ponto de vista?". Ao fazer isto neste caso particular cheguei à conclusão de que a vida não está nada fácil. Pessoalmente, só um motivo de força maior me faria querer abandonar o meu país, a minha cultura (aquela que dizemos estar a ser assassinada por quem chega), para ir para um sítio que não conheço, sem garantias nenhumas, possivelmente a caminho de uma morte lenta de fome e angústia. Cada um que chega, que emigra, para um qualquer país, busca para si e para os seus uma vida melhor, procura sobreviver no mundo. Tendo isto em conta, e sabendo também que são essas mesmas razões que nos impelem a nós a fazer aquilo que fazemos, seria hipócrito discordar com a vinda de emigrantes ao mesmo tempo que procuramos nós uma bolsa de estudo numa qualquer universidade estrangeira, mandar alguém abaixo apenas porque tem um sotaque diferente do nosso quando nós também temos um sotaque diferente do dele, proclamar como nossa uma cultura quando uma cultura não é uma posse mas um conjunto de hábitos e formas de ver o mundo. Ao olharem cada pessoa, lembrem-se de que a sua presença no mundo é tão válida quanto a vossa.

A quarta ideia já foi por mim salvaguardada num "comment" deste "blog". É a ideia de que a subjectividade comanda a vida. Em momento algum poderemos dizer, enquanto indivíduos, "eu tenho razão" se, sobre o mesmo assunto, um outro indivíduo o disser também. Isto é assim porque os factos da realidade aparecem, enquanto verdadeiros, nítidos a todos quantos os vejam. Ao aparecerem assim, unirão quem os presencia numa razão comum e existente, objectiva. Para tal, apenas é necessário que, de facto, todos o presenciem, sob condições iguais ou, dada a impossibilidade, idênticas. Se estou deitado sob uma árvore, e ao meu lado se deita o Flecha Ruiz, e na languidez do conforto vemos uma folha a cair mesmo à nossa frente, surge inequivocamente uma certeza em cada um de nós. Uma folha caiu. A razão é comum e ambos dizemos em uníssono "eu tenho razão". Agora, na mesma situação, se porventura eu dormito enquanto descansando sob a árvore e a folha cai, o Ruiz dir-me-á que a folha caiu. Ele viu-a cair e dirá "eu tenho razão". Eu serei forçado a discordar pois eu não vi a folha cair e direi "não, eu tenho razão, não caiu folha alguma". Acontece agora uma fragmentação da realidade. Ela subjectiva-se perante a diversidade das experiências que ocorreram. Numa versão subjectiva da realidade, a folha caiu (na do Ruiz). Noutra, nenhuma folha caiu (na minha). Cada um de nós acredita piamente na experiência que viveu e defenderá a sua versão subjectiva da realidade o mais possível. Ou então procuraremos, por mais difícil que se nos apresente tal tarefa (acreditem que é mesmo muito difícil), conceber aquela realidade objectiva que nos dá razão a ambos, tal como na primeira situação enunciada. Para tal, dada a simplicidade da situação proposta, bastará a minha explicação de que dormitava sob o conforto que a árvore oferecia até o Ruiz me acordar e dizer que uma folha tinha caído. O Ruiz dir-me-á então que uma folha caiu enquanto eu dormitava e que, devido precisamente ao meu sono, eu não a vi cair. Concluiremos então conjuntamente que foi isso que realmente se passou. Alcançamos assim a percepção da realidade objectiva e teremos ambos razão.

Transportem a ideia que a situação conta para o dia-a-dia de todas as pessoas do mundo. Imaginem, se possível, a diversidade de realidades subjectivas que habitam o nosso mundo, a multiplicidade a que é submetida a realidade objectiva devido à fragmentação que sofre constantemente. A minha é apenas mais uma de entre todas. A vossa também. Partindo deste pressuposto, com que validade poderemos afirmar algo sobre assuntos tão controversos como a emigração, o aborto, as drogas, os sistemas políticos, o Bem, o Mal, Deus, o papel da religião, etc? Nenhuma? É o que parece. Pessoalmente acredito que as opiniões que escolho ter serão as correctas quando todos quantos as compreenderem concordarem com elas, não por subjugação a um mecanismo retórico de explanação de ideias, mas por apercepção nítida da realidade objectiva de onde proviram.

Como avalias tu as tuas opiniões?

20 Manifestações:

  • At segunda-feira, 4 de setembro de 2006 às 21:13:00 WEST, Blogger Flecha Ruiz said…

    O objectivo do post "férias na multidão" era realmnte criticar as férias que se fazem em sitios que apesar de poderem ser bonitos e lógicos a visitar, são também confusos e não próprios para férias, para o que eu procuro numas férias.

    A verdade é que depois descambou para uma opinião pessoal que tenho sobre um país.

    Claro que nem todos somos esfaqueados quando vamos ao Brasil, a minha namorada e os pais estverem lá há pouco tempo e voltaram como foram. Mas a verdade é dita por eles próprios, que são um país do terceiro mundo e que são quase todos criminosos ou potenciais. Tanto os pobres como os ricos. Sim há excepções, tal como o Enviado Especial da ONU Sérgio Vieira de Mello, morto num atentado em Bagdad e com quem o meu padrasto recorda a excelente relação de trabalho em Timor. E como ele haverá outros, o 5º maior país do Mundo há-de ter alguém decente. Falo sim da generalidade.

    Eu não sou contra formas de migração, na verdade sou descendente de uma familia de refugiados do franquismo, Espanhois que fizeram pela vida numa perseguição politica e se instalaram neste país que tanto defendo.

    O "povo brasileiro" tem características que me fazem ter ódio, quanto mais não seja a presunção deles e a destruição progressiva da lingua portucalense. Aqui não se trata de uma evolução linguística inerente ao passar dos tempos, trata-se realmente de uma nova forma de falar vinda de outro país e que nos está a assaltar por completo. Claro que uso "bué" ou outras expressões vindas de certos países mas sei quando é que essas palavras/expressões são correctas de uso e não as utilizo em qualquer meio. O problema com o dialecto brasileiro é que o português se vai perdendo e, como exemplo, aquela mania irritante de se usar "você" no tratamento formal é a prova disso! Estou a dar uma novidade a alguém? Provavelmente estou, mas confirmo "você" não é correcto no tratamento formal, não obstante da crença e uso. Nós temos sotaque? Sendo que somos o país colonizador e origem da lingua eles é que têm sotaque

    O Brasil usa Portugal como sátira, as anedotas são sempre um português que fez não sei o quê! E eu ainda vou para lá oferecer dinheiro a quem goza com o meu país?
    Há ouco tempo o GOV deu autorização de residência a 7ou8 brasileiros que estavam no país ilegalmente e que tinham cometido crimes...então o cidadão honesto o que é que recebe? Aumento de impostos para suportar isto.

    Esta discussão não é propícia a ter aqui devido à ausência de "parada-resposta" e o factor temporal ser demasiado relevente, no entanto se forem ao blog do NES/FDL (num dos links) procurem um post sobre esta mesma questão e lá estará uma discussão sobre este assunto.

    Se me arrependo pelo teor do Post? Não, talvez comece a ser tempo de os Portugueses abrirem os olhos e, em vez de ligarem só à selecção e só se identificarem com os "valores nacionais" presentes no futebol, talvez fosse melhor ligar mais à defesa nacional.
    Se calhar não será esta a melhor maneira e não pensem que estou a tentar impedir o fenómeno de globalização, quero é que, apesar disso tudo, a identidade do meu país esteja o mais intacta possível.

    Agradeço, com a maior seriedade e sinceridade, pela tua manifestação contra a ideia manifestada no post

     
  • At segunda-feira, 4 de setembro de 2006 às 21:20:00 WEST, Blogger Flecha Ruiz said…

    Quanto à questão se como é que avalia as minhas opiniões...
    Claro que se as tenho acredito que sejam as correctas, mas se alguém me demonstrar que estão erradas aceitarei essa mudança.
    Avalio as minhas opiniões consoante a percepção da realidade que me rodeia. Podem até estar todas erradas, mas enquanto não me for demonstrado o contrário viverei e conduzir-me-ei por elas

    Sim, sou anti-brasil...não tanto pelo país que é, mas mais pelo que representa contra o meu.

     
  • At terça-feira, 5 de setembro de 2006 às 15:52:00 WEST, Blogger M. said…

    "(...) que são um país do terceiro mundo e que são quase todos criminosos ou potenciais (...)".

    Como podes considerar que estejas numa posição que te permita fazer semelhante julgamento? Chamar a 120 milhões de pessoas criminosas é ridículo (sendo que a população total é de cerca de 185 milhões). Potenciais criminosos somos todos. O que fazes é um juizo de valor. Avalias o todo com base num particular muito pequeno.

    "(...) O "povo brasileiro" tem características que me fazem ter ódio, quanto mais não seja a presunção deles e a destruição progressiva da lingua portucalense. (...)".
    Presunção? Quem é mais presunçoso? Os presunçosos ou os que avaliam outros de presunçosos? Como podes rotular o "povo brasileiro" como se de um produto em massa se tratasse? Como se cada pessoa se distinguisse das outras por um número de série apenas? Tirando meros detalhes, cada uma das pessoas a que tu chamas presunçosas e assassinas são iguais a ti. Todas elas têm amigos, irmãos, todas elas sofrem, todas elas gostam menos de uns do que de outros, todas vibram como tu vibras com seja o que for. És mais parecido com essas pessoas do que à partida parece. Como podes falar em assassinar uma língua? Nós assassinámos a língua que adoptámos e transformámos na Língua Portuguesa? Acho que não. Como podes condenar milhões de pessoas apenas porque comunicam entre elas? Quem te julgas para dizer como devem as pessoas comportar-se naquilo em que não há regras nenhumas: em viver.

    "(...) Sendo que somos o país colonizador e origem da lingua eles é que têm sotaque (...)".

    Portanto quer isso dizer que onde quer que exista um sotaque diferente, significa que alguém, que é quem está certo, colonizou outro alguém, que a partir desse momento passa a ser um assassino de líguas já que não fala genuinamente uma língua que foi obrigado pela força das armas a adoptar, por forma a que conseguisse perceber as ordens que lhe eram ladradas diariamente por alguém com um chicote na mão... No comments...

    Já que somos nós os "donos" da língua, gostava de saber onde e por quem especificamente foi laboriosamente inventada. Dá-me uma explicação para a origem da Língua Portuguesa que não implique adaptação (ou como lhe preferes chamar, assassínio) de uma outra língua qualquer e diária alteração do seu conteúdo até aos dias de hoje.

    "(...) O Brasil usa Portugal como sátira, as anedotas são sempre um português que fez não sei o quê! (...)".

    Como tens o desplante de ir ao Alentejo, depois de todas as piadas sobre os seus habitantes de que já te ris-te? Como és capaz de apertar a mão a um preto depois de todas as anedotas que já contaste sobre eles? Das duas uma: Ou encaras tais piadas como isso que são, piadas com um período de entertenimento e importância de meio minuto no máximo, e nessa altura não faz sentido indignares-te com o que contam os brasileiros, ou como afirmações concretas sobre as "personagens" de que tratam as anedotas, e nessa altura sentes-te no direito de ganhar ódio aos brasileiros ao mesmo tempo que renegas como simples caricaturazecas os alentejanos, os africanos, etc.

    Como podes atirar pedras se um mail teu distribuindo pela net uma anedota sobre brasileiros foi recebido por mim nem há dois meses atrás?

    "(...) talvez fosse melhor ligar mais à defesa nacional. (...)".

    Se calhar talvez fosse melhor não sermos paranóicos.

    "(...) Sim, sou anti-brasil...não tanto pelo país que é, mas mais pelo que representa contra o meu. (...)".

    Acho que está tudo dito.

     
  • At quarta-feira, 6 de setembro de 2006 às 11:59:00 WEST, Blogger Flecha Ruiz said…

    Faço tal julgamento com aquilo que vejo e oiço todos os dias em Jornais, Rádios e TV, com base naquilo com que os 10 ou 15 brasileiros que conheci na Dinamarca me contaram e com base no que primos afastados do meu padrasto contam. Não é avaliação com base em particular pequeno nenhum! Tu por acaso sabes aquilo que eu conheço ou deixo de conhecer do Brasil? Sabes o que é que eu já li, ouvi ou vi sobre o Brasil? Então não penses que o meu Universo de avaliação é assim tão pequeno. Não, não conheço essas 186 milhões de pessoas, nem de perto, mas não julgues que não sei do que falo.


    Sou parecido com os brasileiros quanto mais não seja por ser um ente humano e falar a mesma língua. No entanto pelos mesmos motivos apresentados no parágrafo supra e ainda mais pelas conversas que oiço em qualquer restaurante fast-food posso concluir que são um povo presunçoso.


    Queres pôr adaptação e assassínio de uma lingua no mesmo pé? Eu digo-te a diferença... O Português deriva directamente do Latim, que por sua vez deriva de outros dialectos. Mas na relação Luso-Latina (que conheço bem, como deves lembrar-te) o que houve foi uma evolução de um dialecto para outro e consequente extinção do primeiro. Uma palavra como "pater" derivou para "padre" (por fenómenos de transformação que não vale a pena explicar) e, por conseguinte, para pai (por outros fenómenos).

    Na relação Luso-brasileira o que acontence é que sendo que fomos nós que levámos o português para lá, as suas palavras é que derivam das nossas (assim fica já explicado o porquê de serem eles a ter o sotaque). Que eles tenham um português diferente, nada a dizer. O assassínio entra quando o país de origem vai eliminar as consoante surdas como em "optimo, facto, etc..." para que seja mais fácil ao senhor brasileiro perceber! Assassínio entra quando o "você" é usado de uma forma incorrectíssima! Assassínio entra quando oiço a palavra "infeccionar" da boca de um português! Não há evolução de uma língua para outra, há penetração de uma que é evolução doutra mas que se vai sobrepôr à primeira!


    Tnho raízes alentejanas, por isso qualquer anedota de alentejanos mas bate como se fosse contra mim. De qualquer das maneiras lembro-me de contar e rir-me com essas anedotas quando era mmiudo...há muitos e largos anos que não oiço. Acho que isso tem uma razão, que é a de todos termos crescido e por algum motivo deixámos de lhes achar piada...continuam a contar-se, mas eu não sei onde é e quem me rodeia não as conta. No entanto essas anedotas sobre alentejanos é uma sátira ao nosso próprio país.
    Sabes bem que entre amigos se diz tudo e ninguém leva a mal. Se vem o estrangeiro criticar o caso muda de figura! Porque nós vivemos aqui e não tivemos escolha de onde nascer, se ele é que vem cá meter o bedelho e não gosta então tivesse ficado na terra dele. Porque se veio para cá é porque aqui seria um melhor palco para a sua representação.
    O mesmo se passa com anedotas de pretos.
    Aliás, tu conheces-me bem e a única vez que tiveste conhecimento de uma anedota minha foi essa de há 2 meses atrás. Não sou muito dessa onda, não gosto desse tipo de humor. Mandei a gozar com os brasileiros, é verdade! No entanto ali a principal sáira (para mim) não era a conclusão, era sim o corpo devido às palavras e o que refiro como invasão.
    Mas julgarás tu que essa anedota não seguiu para o Brasil?


    Menos paranóicos? Talvez não te recordes dos elementos de identidade de um país, mas um deles é a língua! Talvez a minha formação no CM me tenha dado um sentido mais patriota que o teu, mas eu defendo a minha identidade nacional com tudo o que posso! Por isso faz-me espécie quando há pessoas que não sabem o hino ou que julgam que Portugal é só a selecção A! Sabes que os Paralímpicos são os que trazem mais medalhas para Portugal e que não têm dinheiro para comprar equipamentos? Mas isso é outro assunto, embora tenha a ver com patriotismo em todo o seu envolvimento.


    Sim, na sequência do que disse agora sobre a defesa da minha identidade nacional sou anti-brasil pelo que eles representam contra aquela.


    P.S.: Não foi ontem que foi assassinada uma cientista (não me recordo da área de trabalho)portuguesa na floresta da Amazónia?

     
  • At quinta-feira, 7 de setembro de 2006 às 20:03:00 WEST, Blogger Flecha Ruiz said…

    Macambúzia Jubilosa disse...
    A mim o que me aflige é como alguem pode ser contra um País.

    É que todos os países são feitos de pessoas, seres humanos...

    Eu não consigo ser contra um País, nem mesmo quando contra aqueles países cuja representatividade democrática ou tirana é desastrosa e estou a lembrar-me duns quantos...

    Ódio?

    Que palavra forte essa...

    Ali faz-se pela vida, tal como aqui, tal como em todo o lado. O sonho comanda a vida e não podemos/devemos condenar ninguem por os ter.

    O Brasil e os brasileiros é o que menos me preocupa neste momento. Deviamos era olhar mais para dentro.

    E é pela resistência à mudança que somos gozados, que nos faz ser uns parolos bacocos com a mania das grandezas. Todos reprimidos, frustados, mesquinhos e controladinhos. Mas exímios a dizer mal dos outros. Por alguma razão para se "crescer" tem que se sair de portugal, que aqui proliferam os velhos do restelo. E há Brasileiros que dignificam mais portugal que certos portugueses.

    Temos é inveja dos Brasileiros da sua boa-disposição, do seu calor, do seu extravasar, do seu sol constante apesar das intempéries. Nós, pelo contrário, andamos de trombas e vamos comer hamburgers e olhar desconfiados para os Brasucas.

    E claro que gosto dos Portugueses tb, não fosse eu uma e identificaria aqui um conjunto de qualidades deles e de Portugal. Mas aqui fala-se de Brasileiros. E de ódio contra eles(!?!?!?!?!)

    "Não foi ontem que foi assassinada uma cientista (não me recordo da área de trabalho)portuguesa na floresta da Amazónia?" - a cultura do medo, a paranoia, tipico da xenofobia. Mas onde é que eu já vi isto? Com um bocadinho de sorte ainda se diz que vamos ser invadidos pelo Brasil.

    Isto de contrapor dois paises e adoptar uma postura de superioridade em relação a um deles...

    "são quase todos criminosos ou potenciais"???????????????????????

    mas o que é isto?
    onde se fundamenta? na namorada e pais da namorada? há coisas que não se dizem assim, sem fundamentação digna. Brasil é um país de assassinos???????????? grave, muito grave. Mas tambem uma pessoa que diz que "odeia" nunca pode ser objectiva e argumentativa na explicação do seu ponto de vista. Ódio é emoção, ódio é não tentar perceber, porque se chegou ao ponto de apenas se odiar.

    Peço desculpa pela assertividade, mas há coisas em relação às quais não sou capaz de ficar indiferente.

    Falou muito bem o Mortibur.

    O Flecha conclui pelas conversas que ouve enquanto come fast-food que os brasileiros são presunçosos, pois eu concluo, por aquilo que ele aqui escreveu que o presunçoso é ele, porque se acha melhor que os Brasileiros, e sustenta as suas afirmações na namorada e no que ouve no Mac Donalds. Só pode ser gozo.

    Ou xenofobia pura.

    Quinta-feira, Setembro 07, 2006 3:26:46 PM

    (Comentado por Macambúzia Jubilosa. Peço desculpa por ter retirado mas houve um excesso de pontos de interrugação que deslocaram a sidebar. A única alteração no comentário foi esse, de resto está reproduzindo na integra!
    Flecha Ruiz)

     
  • At quinta-feira, 7 de setembro de 2006 às 20:04:00 WEST, Blogger Flecha Ruiz said…

    1- Talvez devas ler com mais atenção ao que eu disse sobre a minha namorada e os pais...nunca disse que eles opinaram o que fosse sobre o Brasil, ou disse? Logo aí metade do que disseste fica sem base. Um olhar mas atento e perceberás que o que refiro é que os próprios brasileiros é que referem isso tudo do próprio país.

    2- Mais uma vez peço que não venham dizer que eu conheço muito ou pouco do Brasil porque não sabem até que ponto a minha base de conhecimento se adequa. Não digas que odeio porque não tentei perceber, porque isso não corresponde à verdade. Conheci e conheço uma série de brasileiros e não os repudiei quando soube a sua nacionalidade, de facto até me tentei aproximar bastante deles.

    3- Não disse que era só através de conversas em restaurantes de fast-food, disse que era numa série de situações incluindo essa. Mas indo por aí...repararás, com certeza, a quantidade de brasileiros empregados nesses estabelecimentos e, numa audição mais atenta, poderás ouvir conversas nada agradáveis. Não são todos nem todos os dias, mas ouvirás. Refiro-te também que até não há assim tantos brasileiros a trabalhar no Mac Donald's.

    4- Também não sou velho do restelo e nunca repudiei as migrações sejam elas de que espécie forem, sendo que Portugal é um dos países com maior comundidade em vários países pelo Mundo fora. Aceito e quero que muitos estrangeiros venham para cá desde que reunidas as condições.

    5- Inveja dos brasileiros é seria algo completamente absurdo porque não é a sua geografia que me fará gostar mais ou menos de um páis. Se fosse por isso odiaria Portugal e fugiria para os Nórdicos.
    Boa-disposição também nós temos, o problema é que, muitas vezes, quando é manifestada somos apelidados de parolos e saloios.

    6- Apenas dei mais um exemplo de uma situação de um português assassinado no Brasil.
    Não acho que sejamos invadidos pelo Brasil, pelo menos não pela força das armas, mas será com lamento que se perca a nossa língua.

    7- Não me acho melhor nem pior que os brasileiros, ou que os norte americanos, iraquianos, angolanos ou chineses. Não me acho pior ou melhor que eles porque não me posso comparar nem individualmente nem como país a outros. O que não gostaria é que o meu país se submeta a outro, seja ele qual fôr. E é isso que vai acontecendo aos poucos e poucos.

     
  • At quinta-feira, 7 de setembro de 2006 às 20:06:00 WEST, Blogger Flecha Ruiz said…

    No comment alterado onde digo "interrugação", quero obviamente dizer "interrogação".

     
  • At sexta-feira, 8 de setembro de 2006 às 12:44:00 WEST, Blogger Macambúzia Jubilosa said…

    1 –Eles próprios são os brasileiros, ok. Mas a interpretação é deles. É o "diz que disse". Com quantos Brasileiros falaram? uma amostra representativa? obviamente que não... ja agora: se a maior parte deles diz que são um país de terceiros mundo e são assassinos, e devem-no dizer com amargura por isso, é porque há pessoas conscientes e que não o são. Ou as que dizem, são tambem?


    2 - As fontes de informação que referes, não são estudos aprofundados e cientificos sobre o assunto, são observações individuais e superficiais que pretendem generalizar.

    3- sou por norma observadora e nunca ouvi conversas desagradáveis por parte deles, nem sei do que falas. Mais uma vez observações individuais e respectiva interpretação.

    4 – queres ou não queres? Como podes querer cá pessoas que dizes que odeias???? No mínimo paradoxal

    5 - "Boa-disposição também nós temos, o problema é que, muitas vezes, quando é manifestada somos apelidados de parolos e saloios". Não creio. Muito pelo contrário. Acho que o nosso problema é sermos demasiados controladinhos e com medo de cair no ridiculo. Eles é que a manifestam e não são apelidados de parolos por isso...


    6 – Deste um exemplo com claros intuito de dar a entender o teu ponto de vista: o de que os brasileiros são assassinos. E não foi ingenuamente que o
    fizeste. A comunicação social quer sangue, não faz reportagens sobre um brasileiro qualquer humanista que trabalha em prol da sociedade. Disso não se fala. É chato. Mas que existem, existem.

    7 -"O que não gostaria é que o meu país se submeta a outro, seja ele qual fôr. É isso que vai acontecendo aos poucos e poucos."
    Submeter? Mas qual submeter? Chama-se isso multicultariedade e permeabilização cultural, Pessoalmente acho que só temos a ganhar com isso. E afinal tens medo que chegamos invadidos pelo brasil ou não? Quando falava em invasão era obviamente metaforicamente. No sentido da submissão.

    Volto a dizer:

    Xenofobia. E o significado desta palavra é claro.

     
  • At sexta-feira, 8 de setembro de 2006 às 12:45:00 WEST, Blogger Macambúzia Jubilosa said…

    E a ver se desta vez o meu comentário não é engolido pelo teu, por causa duns pretensos pontos de interrogação a mais...

     
  • At sexta-feira, 8 de setembro de 2006 às 20:37:00 WEST, Blogger Flecha Ruiz said…

    1-Não é o diz que disse. Foram brasileiros que ME disseram! Eu ouvi, eu debati com eles o problema do Brasil! Sim, dizem-no com amargura e são pessoas conscientes, mas não me ouviste dizer nem leste que os brasileiros eram homicidas de um ponta à outra. Os brasileiros que eu conheci eram estudantes, pessoas com um nível de cultura que a maior parte dos brasileiros não alcança por deificuldades do próprio país.

    2-Pela 3ª vez não julgues que sabes aquilo que eu conheço ou desconheço do Brasil.

    3-Eu já ouvi várias vezes. Mas de qualquer das maneiras não é só por aí que retiro ilacções, esse é apenas mais uma fonte.

    4-Quero "desde que reunidas as condições". Não isolem frases minhas que ficam com outra interpretação quando tiradas do contxto, por favor.

    5-Somos apelidados de parolos, sim. Mas mesmo que sejamos controladinhos...prefiro ser controladinho que as festas brasileiras. Olha, a maior delas - O Carnaval brasileiro! É sem dúvida uma festa linda...sabes o que se passa por lá e as câmaras não captam? Se não souberes tenta procurar, não é dificil!

    6-Sim, fi-lo exactamente com o intuito de mostrar o meu ponto de vista com algo real, actual e horrífico.Os media deram grande cobertura a Sérgio Vieira de Mello (já falei dele), claro que o sangue vende mais e claro que os meios de comunicação preferem isso a alguém que fez algo benéfico. Mas o que se passou não deixa de ser bem real, quer tenha mais ou menos cobertura. Mesmo que as TV não estivessem sedentas a investigadora tinha morrido na mesma.

    7-Não tenho nem deixo de ter. Há coisas que não posso evitar e estando elas fora do meu controlo não tenho medo...espero por elas e lido com elas quando aparecerem. Mas essa submissão está a aparecer com telenovelas, palavras portuguesas a serem substituídas por brasileiras (e não me venham com a história que tembém é português, sabem o que eu quero dizer)...etc, etc!
    Temos a ganhar com o Brasil no quê?

    Peço imensa desculpa por ter substituido o teu post, mas os pontos de interrogação que puseste (não são pretensos, puseste-os mesmo) estragaram a sidebar. Que me censures por aquilo que penso do Brasil é uma coisa que não tenho nada a dizer, mas por favor não ponhas em cheque a minha palavra.

     
  • At sexta-feira, 8 de setembro de 2006 às 20:47:00 WEST, Anonymous Anónimo said…

    Pô Slime...sempre no implicamento!

     
  • At sábado, 9 de setembro de 2006 às 19:06:00 WEST, Blogger Macambúzia Jubilosa said…

    Começando pelo fim: não pus nada em cheque. O comentário lia-se perfeitamente. Se uns pontos de interrogação não se viam, não era por aí. De qualquer forma acho que cabia a mim decidir se isso era importante ou não. Se achasse apagava o comentário e voltava a escreve-lo. Quando dizia pretenso referia-me à pretnsa justifcação para o meu comentário ser engolido. Eu vi que os pontos de int. estavam fora da side bar e nem liguei. Enfim...pormenores.

    Quanto ao resto e porque já acho que chega de andar aqui a desmontar o que um disse e o outro e isto mais parece uma never ending story, e apesar de poder refutar outras coisas que dizeste, apenas quero dizer que aquilo que tu sabes sobre o Brasil é aquilo que tu nos informas. Ou seja, não podes dizer para não sabemos o que tu sabes sobre o Brasil e como sabes, se tu próprio informas aqui como o fizeste.

    Continuo a dizer que não se pode dizer que um pais é feito de assassinos dessa forma ligeira e pouco fundamentada. Em que as fontes de informação não são cientifcas.

    Mas o ódio é teu e portanto, terás de ser tu a lidar com ele. Pessoalmente não tenho esse tipo de "pesos" em cima de mim. Pior para ti.

    E dou por terminado os meus comentários sobre este assunto.

    Termino da mesma forma de sempre. forma esta que curiosamente nunca foi contestada ou justificada. Pois não há forma de o fazer:

    Xenofobia.

     
  • At sábado, 9 de setembro de 2006 às 21:30:00 WEST, Blogger Flecha Ruiz said…

    E como é que eu te explicaria que os pontos de interrogação me eliminaram a sidebar? Não tenho qualquer contacto teu!
    A sidebar simplesmente deixou de existir. Andei para aqui a tentar todas as hipóteses quando finalmemte me apercebi que talvez fosse por aí.
    A justificação não foi pretensa porque se por alguma razão quisesse que o teu commentário fosse abafado tê-lo-ia simplesmente apagado. Mas como a minha politica não é essa e não escreveste nada que me pudesse embaraçar (mas mesmo que houvesse) não o apaguei.
    Da mesma forma podia tê-lo engolido e nem sequer ter explicado o porquê. Pensa o que quiseres, eu sei que não devo nada a ninguém pela minha acção.

    Tanto podes refutar que não refutaste nada e eu justifiquei todas as minhas opiniões. Podes achar que estavam erradas, mas não arranjaste maneira de as contradizer. Prova disso está que neste post nem falas no que escrevi antes. Respeito que estejas farta desta assunto, e nem eu ficaria a gostar mais deles nem tu menos.
    As fontes que justificam a minha opinião pelo Brasil foram explícitas desde o primeiro comentário. Agora, podia ter lido um jornal...ou vários! Ter falado com um brasileiro...ou vários! É nesta medida que digo que não podem pôr em causa aquilo que eu conheço. Se são fontes ciêntificas ou não é indiferente porque não é por isso que perdem credibilidade.

    Curiosamente? Não foi contestada porque realmente não pode ser, nisso estamos de acordo! É realmente xenofobia! Era isso que querias que eu admitisse? Admito, tenho xenofobia em relação ao Brasil, repito Brasil! Durante este tempo todo não fiz mais que justificar o porquê dessa mesma xenofobia.

    Só me resta dizer que podes e deves aparecer mais vezes, não guardo quaisquer ressentimentos e gostaria muito de te voltar a ver por aqui.

     
  • At domingo, 10 de setembro de 2006 às 01:22:00 WEST, Blogger Macambúzia Jubilosa said…

    Caro Flecha

    O meu contacto está no meu perfil...

    No hard feelings :)

    Afinal...admististe que és xenofobo (não me parece é que isso seja motivo de orgulho e não será concerteza).

    See you around...

    PS: e se eu te dissesse que sou brasileira? Gostarias à mesma de me ver por aqui? afinal posso ser uma assassina em potência...rsrsrs... just kidding :)

     
  • At domingo, 10 de setembro de 2006 às 12:29:00 WEST, Blogger M. said…

    uff... anf... pfiu!

    Voçês esforçaram-se mesmo!

    Pena que realmente não tenha dado para nada. Cada um continua com as suas opiniões como dantes e pronto!

    O que ficou bem provado é que ninguém discute aqui a importância, papel ou significado do Brasil no mundo e nas nossas vidas. Ninguém discute por que há xenófobos (de certeza que não os há orgulhosos, mas apenas ignorantes) ou por que nos devemos unir com todos os povos do mundo. Ainda que eu não tivesse previsto, o "post" acabou por ser corroborado pelos "comments" de todos quantos participaram. Fica provado que alguma veracidade lhe assistia. Ficam dadas provas do que eu defendi.

    A subjectividade comanda a vida. À falta de acesso, e infelizmente vontade de acesso também, ao mundo objectivo de que eu falei (para quem não sabe a que me refiro faça perguntas, não dói nada), temos um confronto de visões fundamentadas por diferentes mundos subjectivos. Macambúzia, tu também és xenófoba. Muito! Apenas não o és neste mundo. Se tivesses nascido onde nasceu o Ruiz, tivesses estado onde ele esteve, visto o que ele viu e ouvido o mesmo que ele; se as estruturas mentais que formam o teu cérebro fossem as dele, os teus genes e a tua educação, então estarias com toda a força a vociferar contra os brasileiros pois o mundo subjectivo em que viverias seria o dele. Mas tu nasceste onde nasceste, és quem és, e por uma simples coincidência, pela forma como se desenrolou a tua vida, estás "do outro lado", defendes uma forma diferente de olhar o mundo, de olhar os brasileiros. Dentro da tua subjectividade, tudo se forma claro, és incapaz de compreender por que razão o Flecha teima em ser algo tão feio como um xenófobo. E lutas com tudo o que tens, argumentos, para que talvez o faças olhar as coisas como tu.

    O Flecha Ruiz faz exactamente o mesmo que tu. Está tão indignado como tu.

    Querem ambos aceder a esse lugar comum e verem o mesmo. Querem que a realidade vos afecte de forma igual, e, com isso, querem estar de acordo. Não é o que acontece agora. O que agora acontece é o seguinte: Quando um brasileiro se ri no comboio com um outro, a Macambúzia demora um pouco a aperceber-se de que duas pessoas se divertem com uma qualquer troca de palavras. O Flecha Ruiz, já os tendo notado assim que entrou no comboio (pois ele acha os brasileiros inconfundíveis), irrita-se ligeiramente pois tem a certeza de que eles se riem de uma qualquer anedota sobre portugueses, faz-lhe comichão o volume a que eles falam e se riem, põe-no desconfortável saber que mesmo à frente dele se encontram duas pessoas que não só parasitam neste seu país de fado e MacDonald's, como ainda o fazem com o maior dos "à vontades", como se fosse seu direito e não um favor que nós tão elegantemente lhes prestamos! Tu Macambúzia, ainda que porventura te sintas algo incomodada com uma notícia sobre uma cientista portuguesa morta no Brasil (ou como diria um repórter "brutalmente esfaqueada"), consideras quanto daquela notícia não é especulação dos "media", perguntas-te quantos portugueses morreram hoje na Argentina, no Canadá, na Índia, questionas até que ponto não é usual morreram pessoas pelo mundo fora, e, com isso em mente, relativizas o peso da notícia e indignaste um pouco com a falta de profissionalismo dos jornalistas. Tu, Ruiz, vês exactamente a mesma notícia e logo sentes o teu ódio a aumentar. Para ti, aquela notícia é uma constatação da razão que tinhas, é a prova real de que aquilo que te contaram os teus amigos brasileiros, o teu padrasto, todos quantos conheças que tenham ido ao Brasil, é verdade. Achas incrível como deixam sair impunes os assassinos de um "cérebro" português, e amaldiçoas os políticos por deixarem pessoas como aquelas entrarem no teu país.

    Em cada uma das prespectivas, a forma como os factos são encarados enaltecem ainda mais os sentimentos prévios que cada um de vós (voçês não, porque não é português) sentiam. Macambúzia, que já considerava os "media" demasiado especulativos e sensacionalistas, viu esse seu sentimento crescer ainda mais, ao mesmo temnpo que se indignava com a injustiça que era feita ao povo brasileiro pela televisão. O Ruiz, que já não ia muito à bola com quem quer que tivesse um sotaque acentuado e muitos estrangeirismos, sentiu que cada vez mais tinha razão em ser tão hostil para com os brasileiros e ainda mais desejou que se fossem todos embora.

    A cada um de voçês, ainda que tivessem visto a mesma coisa, a realidade concedeu mais uma razão para serem como são, para acreditarem naquilo em que acreditam. E mais uma prova para exporem num qualquer argumento que formulem quando quiserem convencer alguém de que a forma como vivem é que é a correcta, que as coisas são como voçês as descrevem.

    Acontece que não foi o mundo que vos deu duas formas de verem as coisas. Foram voçês que viram o mundo por prespectivas diferentes. A ambiguidade não está na realidade mas em vós. Objectividade vs subjectividade.

    A forma como nós vemos o mundo é em si um mecanismo de auto-preservação do nosso equilíbrio emocional. É mais uma ferramenta de que nos dotou a natureza para que consigamos gerir possíveis conflitos que surjam com o mundo. É por isso mesmo que nos é tão difícil "dar o braço a torcer", dizer explicitamente "tens razão, vou tentar olhar o mundo duma outra forma". Isso significaria pôr em causa aquilo em que acreditamos, e pôr em causa aquilo em que cremos é um risco que o ser humano não gosta, pela sua natureza, de tomar, pois pode significar o desabar de todas as estruturas sobre que se apoia no seu dia-a-dia. Por isso existe aquele "orgulho" que nos agarra ao que acreditamos.

    A partir daqui, resta a cada um de nós lutar com todas as forças por aquilo em que acredita, não para tentar que outros atinjam a verdade, mas para impedir que nós próprios caiamos em contradição com os nossos sentimentos, forçando-nos a nós mesmos a acreditarmos neles. Tal significaria um desiquilíbrio emocional indesejável(ainda que de uma forma inconsciente).

    Vêem bem portanto, que aquilo que entrou em jogo nesta troca de "comments" nada teve que ver com os brasileiros. Teve que ver com cada um provar a si mesmo que aquilo em que acredita é correcto, que, mantendo esta forma de pensar, de olhar o mundo, a sobrevivência do equilíbrio de que necessitamos internamente para viver estará assegurada.

    Chegados a esta conclusão, podemos perguntar-nos: Valerá a pena a discussão sobre os 1001 tópicos que possamos arranjar quando, o que basta no fundo, é termos confiança naquilo em que acreditamos? O que nos move então e nos faz tomar cada debate como uma luta pela sobrevivência? Por que sentimos que não podemos deixar outros convencer-nos de que aquilo por que lutamos está errado?

    Como seres humanos, será assim tão hediondo perceber que não detemos a verdade?

     
  • At domingo, 10 de setembro de 2006 às 12:35:00 WEST, Blogger M. said…

    Há possiblidade, devido
    à extensão do meu anterior "comment", de estares a ler este sem ter lido o outro. Bem sei que me estiquei, mas não se pode encurtar as pernas ao raciocínio sob pena de sermos incompreendidos. De qualquer das formas, se for esse o caso, convido-te, mais uma vez, a lê-lo.

     
  • At domingo, 10 de setembro de 2006 às 13:24:00 WEST, Blogger Macambúzia Jubilosa said…

    É claro que o Flecha não me vai convencer a ser xenofoba como ele, nem me que parece que fosse pretensão dele. No entanto, acho que esta discussão ainda assim deu alguns frutos. Podemos até não concordar com tudo o que o outro disse mas há coisas que ficam e talvez tenhamos a capacidade de não concordando, perceber.

    O Flecha soube explicar os seus argumentos de forma educada e calma. Eu fui um bocadinho mais intempestuosa, mas cada um tem o seu feitio. Mas no fundo, só o facto de termos feito um esforço por nos "ouvir" mutuamente, por tentar descortinar o que o outro disse, já valeu a pena...

    As vezes em que eu mais cresci nesta vida, foi por consequência do confronto. Confronto de ideias, de opiniões...

    Tens razão no que dizes, tudo é subjectivo. Tudo é relativo, tudo é construção e interpretação humana É claro que é... è claro que o ser humano lida mal com paradoxos, com ambiguidades e tem necessidade de arrumar as coisas.
    Mas e vamos todos ficar de braços cruzados e renunciarmos às opiniões, porque são subjectivas?

    Eu tenho as minhas convicções, no entanto deixo a porta aberta para elas mudarem. E tenho mudado algumas. Não é o caso desta. Mas li com atenção o que o Flecha disse e percebo que algumas coisas que referiu lhe façam sentido...

    A falar é que a gente se entende... às vezes.

    E vale a pena sempre falar por causa desse "às vezes"...

    O necessário é termos alguma auto-vigilância para percebermos quando estamos a defender uma convicção e não uma teimosia pessoal e quando estamos a dar espaço ao outro para argumentar e ter uma escuta activa sobre o que ele diz...

     
  • At domingo, 10 de setembro de 2006 às 16:00:00 WEST, Blogger Flecha Ruiz said…

    Se fosses brasileira aceitava esta discussão da mesma forma que aceitei. Não obstante aí a minha escrita deixaria de ser de troca de opiniões e passaria a ser um ataque cerrado. Quanto a homicida, mesmo que o fosses, seria dificil provocares alguma morte pelo ecrã.

    Admiti, mas acho que a minha xenofobia foi clara desde início, nunca a neguei e a minha exposição demonstrou isso mesmo. Não é com orgulho ou sem orgulho, é uma forma de estar e de pensar que me leva a romar determinada atitude!

    Eu aqui não quis que ninguém passasse a sentir o que eu sinto em relação ao Brasil. Se (ainda) se recordam o titulo do Post é "Como avalias tu as tuas opiniões?". Não fiz mais que justificá-las.

    Morbi: Não nos cansamos, pelo menos eu não me cansei, manifestamos foi as nossas 2 distintas "realidades". Como essas realidades não podem ser assim tão distintas tentou-se criar um núcleo de entendimento em algo que ambos poderiamos concordar, ou, no minimo, embora tivessemos visões diferentes desses ponto teriamos de nos rebaixar à sua inegável realidade.

     
  • At segunda-feira, 11 de setembro de 2006 às 12:59:00 WEST, Blogger M. said…

    Ainda bem vêem as coisas de uma forma tão saudável. Chegaram, enfim, a um acordo. Eu não achei assim tão "limpo", já que, às tantas (talvez esgotadas as provas de cada um, ou sentindo um aperto daquele "orgulho"), o que fizeram foi desmentir, parafrasear, enrolar e desenrolar as palavras de um e de outro, numa tentativa de (numa palavra que devia ser banida de uma qualquer análise conjunta da realidade) refutação do que um e outro disse. A partir desse momento já não interessaram para nada as xenofobias e os brasileiros, mas quem sabe melhor argumentar. Enfim...

    Nunca falei em estoicismo. Uma grande diferença existe em renunciar à manifestação de uma qualquer opinião e à constatação da falta de fundamento que a nossa opinião tem. Não peço que deixem de fazer a última. Mas apenas acho que é uma perda de tempo se a fizerem sem a segunda. E a segunda é realmente difícil de fazer.

    Afinal, por que escrevemos aqui? Que me interessa a opinião das outras pessoas quando tenho a minha e não a quero mudar?

    Flecha, se tentas justificar uma tua opinião e essa opinião é diferente da de alguém, então estás a tentar convencer essa outra pessoa a partilhar da tua opinião. É inevitável. Ainda que não seja tua intenção e que a outra pessoa não queira mudar de opinião.

     
  • At quinta-feira, 14 de setembro de 2006 às 12:24:00 WEST, Blogger Flecha Ruiz said…

    Não necessáriamente. Posso estar apenas a tentar que a pessoa perceba porque é que eu faço determinado julgamento. Quero que ela perceba o porquê da minha opinião.

     

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