Cu virado para a lua
Com os actores Brian Cox, Scarlet Johansson e Mattthew Goode
Devo confessar o meu cepticismo aquando a requisição deste video no VOD. Nunca tinha ouvido falar do filme e aquela pequena descrição de apresentação estava pobre e não deixava adivinhar o que realmente prometia. Estava, pois, redondamente enganado! O filme é brutal, a fotografia linda, o enredo nada previsível e a actuação fantástica! Recomendo vivamente.
A peça trata da questão da importância da sorte na nossa vida... A personagem Chris Wilton (Brian Cox) refere algo como "O trabalho árduo é condição essêncial para o sucesso, mas a sorte ou falta dela é que é verdadeiramente determinante" e é nessa frase que se concentra o cerne da obra.
O que é para mim a sorte? Talvez possa definir a tipologia "sorte" como um conjunto de situações distintas mas coincidentes que criam um quadro que oferece um panorama favorável ou desfavorável. Se acho que essas situações são determinantes? Sim, ou não fosse aluno assíduo nas orais da FDL. Não há maior e melhor analogia e/ou metáfora ao parafraseado por Chris Wilton do que as orais naquela faculdade. Mas, fora do ambiente académico, reparo que há uma série situações incontroláveis pela figura humana que influenciam a nossa existência! Não projecto a minha vida nessa série de condições aleatórias que me podem favorecer ou não e não ando, por certo, ao sabor do vento e da maré, mas facto é que muitas vezes (de forma, talvez, pouco recomendada) deixo-me esperar para ver no que é que dá, ou então penso que "com uma bequinha de sorte talvez...".
O que é então a sorte? É a preparação de um terreno palpável de forma a harmonizar os nossos esforços numa posterior coincidência positiva, ou seja, lavrar o terreno, semear, regar e esperar pela sorte de um bom ano?Caso esse bom ano seja afinal mau podemo-nos consolar com "tive azar"? Ou a preparação conta pouco já que até podemos fazer isso tudo bem mas, por má sorte, há um incêndio que nos destrói o trabalho?E aí podemos pensar "porquê ter trabalho se pode correr tudo mal na mesma? Será que, de alguma forma, nos podemos precaver da sorte ou até "manuseá-la"? O que é então a sorte?
Às vezes a sorte dá muito trabalho.
Às vezes a sorte não dá trabalho nenhum...
O filme é de facto, muito bom. A cena do anel, revela-se uma reviravolta Hitchcockiana, em que o que parece ser o que o condena, é afinal o que o ilibe.
Tudo depende do lado em que cai a aliança. E esta ideia é de tal forma redutora que nos desconcerta....
Dostoiévsky dizia “Se Deus não existe, tudo é permitido”. Para Chris não existe Deus, nem justiça. Existe uma boa dose de sorte.
E como sempre, as personagens de Woody Allen, são complexas, contraditórias, descontroláveis. E neste filme, ele desmascara-nos, expõe-nos e confronta-nos com a nossa própria natureza, arremessa-nos contra uma parede e obriga-nos a olhar para dentro de nós. Para os nossos limites, para o que somos capazes de fazer e para o que foi apenas resultado de uma roleta russa, do acaso ou do que foi efectivamente criado por nós...